domingo, 6 de maio de 2012

A cada coisa que coloco no papel, percebo que escrevo pra me salvar de mim mesmo. Me salvar das minhas próprias armadilhas. Escrevo pra inventar caminhos, rotas de fuga pra sair dos labirintos e engenhocas utilizadas na arte de pensar. Quanto mais escrevo, mais me convenço de que nunca vou recuperar e juntar todos os rascunhos, esboços e textos inacabados, demarcadores dos meus vários estágios com a arte de pensar sobre a arte de escrever. São duas dificuldades básicas, a primeira está relacionada ao sacrifício que eu teria pra encontrá-los, no caos das minhas transmutações, até porque, não estão guardados em um único lugar. A segunda é minha incompetência para terminá-los, ou seja, transformá-los em obra de arte finalizada, pronta para o consumo humano. Por esses motivos, sempre que escrevo algo, ainda que considere interessante, me assusto, quando lembro do volume de escritos que já produzi ao longo desses anos. Chego a pensar que já criei um fantasma textual, pelos conteúdos desenvolvidos em tais rascunhos de minhas reflexões. Toda vez que lembro deles, me conscientizo da importância de escrever, mesmo quando não tenho tempo ou paciência para trabalhar as ideias, até que se tornem algo indispensável, para mim e para mais alguém. Lembrá-los, me inspira, inspirado, escrevo sobre os escritos deixados em algum canto do esquecimento. Esse exercício me ajuda a pensar no quanto vivemos condicionados aos rascunhos impostos pela correria e pelos transtornos do cotidiano, que nos oprime e não nos permite concluir nossos sonhos, do jeito que gostaríamos. Assim, somos obrigados a viver os rascunhos de nossas próprias vidas, no lugar de nossas vidas reais. Consciente disso, escrevo, ainda que seja, sobre os meus escritos, esquecidos no tempo, perdidos por aí, sem acabamento.