quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Dezembrinas

Aqui, no Rio, escutamos muito a expressão: " É mais um fevereiro!", referência ao mês do carnaval, ainda que o evento multimídia, multicultural e multifacetado aconteça em março. Outra expressão muito comum, que já deu nome a uma obra musical do nosso inesquecível, Tom Jobim "Águas de março", referência às fortes chuvas que caem no mês de março, ainda que chova mais em janeiro ou mesmo em dezembro, como tem sido esse nosso dezembro de 2010. Me recuso a actreditar que as águas de março estão se antecipando e caindo mais cedo, por conta das alterações climáticas e devido ao mal estado de saúde do planeta terra.Por isso resolvi chamar essas águas de Dezembrinas...
Na década de 1990, fiz uma canção que tinha o seguinte refrão: " Brisa leve, dezembrina, brisa que me traz a menina..." escrevi esses versos pensando na gestação de minha filha, ainda no ventre da mãe, que nascera em dezembro.Tenho percebido que esse dezembro de 2010 está muito diferente dos outros. Nas últimas semanas, quase todas as tardes,enchendo a boca da noite e molhando as nádegas da madrugada...desce um pancadão bem pesadão, que deixa cariocas e turistas assombrados. Sem falar nas condições, ainda precárias, da estrutura de escoamento das águas da chuva.
Ontem,um pouco depois que caiu um daqueles pancadões assustadores, me peguei observando a presença elegante dos oitiseiros, aqui da Nossa senhora de Fátima...e,descobri algo que faltava nos meus mapas afetivos das árvores e frutas da minha vida. Descobri que o Oiti é uma fruta dezembrina. Que prazer! Ah! Que gosto de Oiti, que de tão poético, parece que já comi.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Resíduos conceituais.

Tenho pensado, dito, escrito e cantado os resíduos de um procedimento que inventei pra criar um corpo melódico, baseado na métrica tradicional do Jongo. Depois de vários experimentos, sozinho e com outros músicos, cheguei a conclusão de que se tratava de uma nova linguagem musical. No útero da MPB com todos os seus séculos de história e estágios de elaboração, seus vários eventos inovadores e transformadores, que tanto contribuiram para formação de muitos de nós e nos ajudaram a entender melhor nosso DNA de cidadão Brasileiro, que ainda preserva sua maior característica: a de construtor. Nosso País ainda está em construção,em muitos aspectos, apesar de passearmos por entre ruínas em muitas cidades por aí. Aqui, na cidade do Rio de janeiro, não é diferente. Nossas comunidades vivem sob uma ditadura arquitetônica, gerada na extrema necessidade de ter um teto qualquer pra se defender dos surtos do tempo, esse Deus implacável, que adverte com ações marcantes e definitivas.
Quando me dei conta dessa paisagem recorrente nas periferias e nas favelas, saquei que era a imagem do desespero que aquelas pessoas viviam ou morriam, sei lá!