quarta-feira, 11 de abril de 2012

Cabelo pro alto

Se todas as pessoas nascessem e crescessem, totalmente, carecas, cabelo não seria um tema relevante. No entanto, no reino animal e, mais especificamente, entre os mamíferos, ter pelos é muito natural.
Um mamífero muito respeitado e, que se destaca por sua farta cabeleira, carinhosamente, chamada de "juba", é o Leão.
Acredito que por conta de não termos uma língua comum, entre humanos e os outros animais, ainda que a "juba" de um leão cause algum tipo de incômodo, nenhum humano pode sequer, esboçar através de palavras sua insatisfação estética com o comportamento capilar de um leão.
Nessa mesma linha de raciocínio, penso que nenhum outro animal, por mais atrevido ou desavisado que seja, tenha a coragem ou despreparo de se meter nessa
área tão particular, íntima, invadir a privacidade do leão e comunicar incomodações, que possam ser interpretadas como: "por quê você não penteia essa juba?" "Por quê você não corta essa juba?" "Cara, essa sua juba chama muito atenção das fêmeas!
Enfim, acredito mesmo que os leões não sofram esse tipo de aluguel por parte dos outros animais, a ética de convivência entre eles, deve ser mais avançada. Cada um vive suas próprias questões e, talvez, não tenham tempo pra se preocupar com a vida alheia.
Já o ser humano, que se acha o animal mais inteligente, um animal racional, com poder de "pinça" entre o polegar e o indicador, com um currículo repleto de grandes invenções, seguidas de grandes destruições, guerras, genocídios, holocaustos, planos superiores e P.H. Deus para o extermínio do planeta terra e da própria humanidade. Esse animal, sim é o mais perigoso e sem ética que existe e passeia pela sala de estar, pelos quintais e praças da nossa querida nave-mãe.
Esses estranhos homo sapiens não aprenderam ainda o que é diversidade, ainda se assustam entre si. Não conseguem vislumbrar a dimensão da espécie humana em toda a sua ampla paleta de tons e matizes diferentes, não entendem multiculturalidade e diferencialidade, ou seja, a multi mistura das diferenças, sem descaracterização, agressão ou imposição de um padrão sobre outros.
Atrasados, contrariam toda e qualquer possibilidade de entendimento mútuo, em defesa de pontos de vistas ensimesmados. Continuam iludidos, pensando...nem sei se pensam ou roubam pensamentos, assim, como roubam culturas, invenções, objetos de artes, saberes, linguagens, enfim, tesouros de outras civilizações...
Estou certo de que nunca triunfará um padrão único de comportamento, entre as várias culturas diferentes que ocupam esse planeta, a diferencialidade é a meta-física do que se apresenta como multicultural.
Um dia entenderão, que a diferença é uma mera invenção de quem quer ser igual e não consegue. Logo, não conseguindo ser igual, não consegue se diferenciar dos iguais, sendo assim, qualquer padrão de comportamento que alcança a diferenciação, lhe é superior e pode ofuscá-lo, esmagá-lo, esteticamente, falando.
"Quem não tem cabelo, não carrega trança..." o leão tem juba, por isso, ele balança...meu cabelo se comporta como se fosse um feixe de fios em movimentos curvilíneos ou um aglomerado de flechas multi direcionais, sou filho de Oshóssi...pro alto,pra baixo, pra frente, pros lados, na verdade, meu cabelo é, extremamente, bem atirado, esvoaçado, livre, trançado e dançante...meu cabelo chega a ser excitante!
Se todos nascessem e crescessem carecas, o cabelo não seria um tema relevante. No entanto, sou mamífero, tenho pelos e gosto de tê-los, do jeito que eles são, naturais e meus.

domingo, 8 de abril de 2012

Abril, abricó abra e coma

Essa coisa do calendário, assim como qualquer dispositivo antigo, tem suas curiosidades. Desde criança que observo com extrema atenção a estrutura espaço-temporal de cada mês.
Nesse instante, enquanto escrevo, me lembro algumas implosões neuronais, no interior da minha caixa craniana, quando percebia qualquer insignificante diferença entre um mês e outro...foram muitas implosões.
No entanto, a mais marcante foi quando entendi, que os meses são iguais, com possibilidades de comportarem eventos diversificados dentro de suas estruturas programadas.
Depois dessa grande implosão, que me pareceu o meu "Big Bang" particular, todas as outras foram sugadas por um túnel no meu imaginário, como se fosse um "buraco negro" voraz de referenciais físicos e meta-físicos, provocadores de forças contrárias, que demarcam a presença de eventos diferentes no gráfico comportamental de uma estrutura em estado de repouso e com isso causa movimentos.
Ainda na minha infância, pra minha felicidade,vivida quase, integralmente, em áreas rurais ou semi-rurais, tive o privilégio de conhecer muitas frutas. Cada fruta nova que meu organismo assimilava, significava uma implosão ou uma sequência de implosões.
Dias atrás, passeando no aterro, hábito que cultivo com profunda satisfação, retomei uma sensação saborosíssima.
Enquanto pedalava, na beira da praia do Flamengo, observei que os pés de Abricó estavam todos carregados de amarelinhos, polpudos e cheirosos...ao mesmo tempo, lembrei quando fui apresentado a um fruto chamado abricó, pela primeira vez, lá na Vila Americana, Queimados, baixada fluminense, onde nasci e vivi parte da minha infância.
Além dessa gostosa lembrança, pensei na quantidade de moradores de rua que poderia desfrutar a doçura da polpa do abricó e ainda na possibilidade de parentesco entre essa fruta e o mês que estava começando, já que os dois acontecem dentro da mesma estrutura espaço-temporal, que aprendemos a chamar de Abril.
Agora tenho certeza que essa implosão não será consumida pela fúria voraz de nenhum dublê de "buraco negro". Esse é aquele tipo de acontecimento pra ser lembrado e contado por muitas gerações.
Um dia abriram um abricó na minha frente e eu caí dentro. Não me lembro o mês, nem o ano...só sei que foi um acontecimento intra craniano inesquecível.