sábado, 21 de agosto de 2010

Diamante Feminino

DIAMANTE FEMININO

Augusto Bapt
Claudia Miranda

No interior da pobreza, nas experiências de deslocamento por conta da preservação da integridade física ou na guerra, propriamente dita, as mulheres não foram/são, coadjuvantes como em muitas formas de legitimação da história fica representado. A mulher como invenção patriarcal está subjulgada e fixada como subalterna. Por outro lado, já está mais que provado, ao longo do processo histórico da maioria das civilizações, que esse papel inventado pelo macho, não corresponde a realidade concreta,ou seja,é resultado da necessidade que o macho tem de impor o seu poder o tempo todo, ininterruptamente,desrespeitando toda e qualquer regra de convivência social e humana. Esse quadro revela uma disfunção psíquica no comportamento masculino, que a psicanálise, certamente, já explica. Nesse contexto, e em âmbito restrito, a primeira pessoa a sofrer as conseqüências perversas dessa patologia do macho é sua própria mulher...que,além de ser, indispensável para qualquer passo dado por ele( o homem), é ela que fica responsável por toda a base familiar: organização da casa em todos os sentidos e educação dos filhos,concluindo assim,sua participação direta e decisiva em todas as etapas do processo civilizatório do homem.Por tanto,a representação da mulher como parte fundamental e indispensável para o surgimento,manutenção e perpetuação da humanidade precisa ser repensado e revisto na psique humana,para que o indivíduo-mulher deixe, definitivamente,de viver à sombra da existência masculina.

Quanto tempo

Não importa quanto tempo resta / não sou fantoche nem arroz de festa
nada me prende,nada me segura /acendo velas na sala escura..
rezo pros santos ,bem à minha moda / jongando livre no meio da roda
que vai tomando todo o terreiro/ mulher guerreira dança pro guerreiro
que tira ponto,aquecendo o couro/ toca o tambor e desentoca o ouro
que brilha junto com canto do galo/só quem entende pode acompanhá-lo....
se não entende já se enfeitiçou/ jongo é um jogo de preto sabido
da armadilha que o branco armou, pra amarrar preto desentendido
da história , antes do colonizador/ que preparou futuro garantido
criando leis, no templo – academia /sugando sangue do tataravô
jongo é um jogo de sabedoria/ que nasce na luta com o PODER
por isso ,criança não se metia,pois não sabia ainda esse SABER

Trincheiras Mercadológicas

Trincheiras Mercadológicas.
Augusto Bapt.
Penso não haver melhor lugar para se promover um produto que não em um Mercado.
Na década de 70, fica perceptível, o fenômeno conhecido como “êxodo rural”, resultante do abandono das populações do campo em direção aos grandes centros urbanos. Lembro como se fosse hoje, no ano de 1971, estava em Campos, estado do Rio de janeiro. Ainda muito criança, ouvia as pessoas falando: “Vamo pra cidade! Vamo pro Rio!” Não conseguia entender o que queriam dizer. Só conhecia a periferia da tal cidade que aquelas pessoas desejavam...salvo,uma atividade ou outra,meu bairro de nascimento era muito parecido com o lugar que elas queriam deixar pra trás.
Em Queimados, onde nasci, Baixada fluminense e, especificamente, no meu bairro (Vila Americana) e adjacências, me recordo de duas atividades marcantes que geravam ocupação e alguma renda para os homens da localidade. Uma era a extração (clandestina)de areia dos leitos de rios. Outra era chamada de “corte de grama”, que nada tem a ver com aparar grama de jardins, mas tem a ver com jardins, já explico. Como havia uma quantidade considerável de terrenos inutilizados,sem plantio e nem moradias e em sua maioria, a superfície era coberta por uma espécie de tapete verde...de vez em quando,de quando em vez,quase sempre se viam caminhões e homens cortando “placas de grama”,assim que eles chamavam os pedaços do tapete verde, cortados com extrema técnica,com o auxílio de uma enchadinha de cabo curto...Essa grama era vendida e replantada em jardins de mansões, praças públicas e gramados de condomínios fechados. Para mim e as outras crianças,aquilo não era trabalho,era um evento diferente pro nosso cotidiano.
Crianças, em todas as fases da vida, observam e ser adulto, os adultos querem preservar a condição lúdica e fantasiosa da criança, que o excesso de seriedade já não os permite. Esse embate começa dentro de casa e se estende pra sociedade. Começa quando nascem os filhos e só termina quando morrem os pais. Esse quadro, aparece muito bem representado, em nosso cotidiano, pela forma como se organiza nossa sociedade: um poder oficial a serviço de uma minoria e a maioria com necessidades de organizar o seu próprio poder.
Na sociedade em que fui criança, cresci, me tornei adulto, envelheço e mesmo, tendo lapsos de imortalidade, morrerei. E, morrerá comigo essa dialética absurda, que insiste em construir canais de diálogo entre o Poder oficial e as representações de poderes existentes dentro do seu campo de domínio. Certamente, por ter vivido minha segunda infância em Campos, interior do Estado do Rio de Janeiro,tive o privilégio de conhecer bem de perto um quadro social,econômico e cultural, extremamente, fiel aos tempos remotos de Casa grande e Senzala. Privilégio que vem da experiência de viver algo muito próximo daquilo que viveram meus ancestrais os homo-Senzaliens. Ou seja, aqueles seres humanos,vindos da África, impregnados de milênios e milênios de um processo civilizatório , entre seus iguais, derrepente, quase que por acidente, se deparam com os colonizadores europeus, em condições de desvantagens. São capturados, aprisionados, jogados em porões sombrios dos inesquecíveis Navios Negreiros, também conhecidos como “Tumbeiros”, devido ao grande número de africanos que morriam durante as viagens intercontinentais, por dentro do útero do oceano, lugar misterioso, assustador e mágico...capaz de lhes tragar a vida, a liberdade e a alma, entidades que sempre foram muito respeitadas por todos os Homo Senzaliens. Sobreviventes nos confrontos em terras africanas. Sobreviventes nos porões dos navios. Enfim, sobreviventes de todas as Senzalas que a História lhes reservou, são os únicos organismos humanos em condições químico-biológica de erguer a nova Civilização, essa que chamo Senzalienis.
Dois fenômenos surgidos entre as décadas de 1980 e 1990 - inicio de uma onda de construção de Shopping Centers e o surgimento/crescimento do fenômeno socioeconômico chamado popularmente de “ Camelódromo” – que segundo o olhar que estou lançando, podem ser definidos como “Trincheiras mercadológicas”- se levarmos em consideração que nas trincheiras de guerra os soldados são demonstradores/vendedores de vários produtos, criados e desenvolvidos por cientistas/tecnólogos, aprovados por seus chefes de Estados e sob o comando de seus Generais. As atividades citadas como o corte de grama, de cana e a extração de areia... também se enquadram, já que em todas elas encontram-se grupos entrincheirados e defendendo a sobrevivência pela carência de alternativas. A economia é um cobertor que não cobre ao mesmo tempo os pés e a cabeça.
São essas pessoas do êxodo rural que vão alterar de forma radical e, definitivamente, a paisagem urbana da cidade do Rio de janeiro. Essas pessoas vão ampliar as periferias e formar novas favelas no perímetro urbano, onde vão morar os formadores da classe operária carioca (COC)
Em toda grande cidade, podemos encontrar essa realidade: povoamento rápido, em condições não adequadas, favorecendo o alastramento de construções provisórias, que por falta de recursos e políticas públicas eficientes, se transformam em moradias definitivas. As favelas cariocas são exemplos desse desordenamento arquitetônico.
Nascidos no imediatismo de quem precisa de um abrigo, antes das próximas chuvas ou do próximo inverno, os Barracos se amontoam, por cima, por baixo, do lado, pela frente...escorando e protegendo uns aos outros, gerando uma estética enlouquecida, que Baptizei de arquitetura do desespero. Quando entendemos que esses grupos deslocados estão numa guerra pela sobrevivência e pela melhoria das condições de vida, entendemos também , que cada complexo de barracos é uma trincheira de guerra, onde os soldados são vendedores e vendidos, defendendo seus pontos de venda e revendendo qualquer mercadoria. Confundem-se com suas próprias muambas. Ora são consumidores ora são consumidos. Logo, todo e qualquer aglomerado de compra e venda é uma Trincheira Mercadológica. Feira Livre, Shopping Centers, Camelódromo. Hoje, na cidade do Rio de Janeiro, os grupos que circulam em busca de um business freqüentam, indistintamente, esses mercados. E, de uma forma ou de outra, todos estão entrincheirados, ou estão procurando sua trincheira. Cada um no seu grau de necessidade, lembrará do Shopping ao mesmo tempo em que pensa no mercado popular da Rua Uruguaiana, de Madureira, ou de Campo Grande. Por questões econômicas ou, meramente, afetivas.
INDUSTRIA DA MISERIA...
Por mais que nada seja tão uniforme, unânime e equilibrado, sócio-economicamente, estão todos ali, quase na mesma condição, lutando, diariamente pela defesa de suas vidas, sem perder a dignidade e em muitos casos, humanizando uns aos outros, através do exercício de cidadania e pertencimento do processo de construção de saídas para o desemprego e a exploração selvagem exercida pelos empresários do comércio convencional.
Esse trabalho se resume em um passeio criativo e sério,assim como são as brincadeiras de criança, quando estão defendendo o seu lugar no mundo dos adultos. Não somos crianças, também não somos o poder oficial, logo, somos uma representação do poder do povo em ação interventiva, no interior de uma Trincheira Mercadológica, no centro da cidade do Rio de Janeiro, apresentando o Jongo, como principal código genético do conceito artístico-musical:Jongo Contemporâneo, criado e desenvolvido pelos fundadores/compositores da banda Caixa Preta(Augusto Bapt e Rodrigo Braga)tendo como referência máxima dessa criação, a preferida do primeiro CD, a música “Caxanga Rosa”, que expõe o diálogo desse gênero, com a sociedade, mais precisamente, com a indústria Cultural. Jongo, uma espécie de amálgama tão antiga, resultante das falas, dos gritos, sussurros, gemidos e rezas oprimidas dos nossos ancestrais nos Navios Negreiros, nas Senzalas e nos Quilombos.
Em todos os momentos em que essa música foi apresentada ao público (qualquer público) ficou claro que se tratava de algo diferente nos porões da MPB. Atualmente, no subúrbio do Rio, precisamente, em Bento Ribeiro, acontece uma festa promovida por fãs da Caxanga Rosa. Entendendo o Jongo como uma de nossas estratégias mais antigas de construção dialógica entre o Homo-Senzaliens e o Homo sapiens ( representado pelo Homem da Casa Grande), podemos entendê-lo como linguagem , que se desenvolveu, secreta e misteriosamente, no âmago da psique do homem da Senzala em processo de descolonização e construção inteligente de seu discurso pós-colonial. Esse é o pressuposto mais significativo e relevante para o surgimento do Jongo Contemporâneo, canal decisivo para o fluxo do pensamento senzalience, rumo a um futuro próspero e incontrolável.
Ainda somos oprimidos, por isso estamos entrincheirados, com os nervos corroídos e os ânimos exaltados...
Palmas, rezas, cantos, tambores...
Mitos, ritos, gritos aflitos em ciclos de horrores...
-Calma!Tenha a santa paciência!
Diz o homem, que nunca passou fome nem teve que enterrar nenhum parente, feito um bicho indigente...
-Como eu tive que fazer! Você não sabe, por mim, nunca vai saber...Não me interessa a sua avaliação sobre o meu modo de sofrer, quem sabe da minha dor sou eu... e não quero vendê-la em nenhum mercado, por preço nenhum...meu sofrimento não é mercadoria...e tem mais, se a Paciência fosse santa, já teria feito um milagre pra esse povo parar de esperar tanto.
Ainda somos oprimidos, por isso estamos entrincheirados, cada vez mais excluídos e marginalizados, quando estamos reunidos somos insubordinados...
O trecho acima, atesta o quanto o indivíduo se sente, se torna mais forte e capaz de se manter vivo, quando se conscientiza de seu pertencimento histórico, seja pelas conquistas ou pela dor, provocada pelas perdas. Em outras palavras ressalta a fundamental importância do conhecimento e da informação como mecanismos imbatíveis para resoluções de problemas sociais e para o crescimento humanitário.
Uma questão milenar, continua atual, e devido a força de seu principal fundamento, permanecerá enquanto essa espécie existir. Trata-se de uma pergunta que gera uma brincadeira, quando somos crianças...para adolescentes e adultos estimula um fluxo de viagens intermináveis: advinha o que estou pensando agora? Automaticamente, crianças começam um jogo de advinhação que se transforma em um combustível poderoso para o imaginário livre e para o pensamento cognitivo, desvendar portais insondáveis que podem alcançar outras racionalidades. Como diz o velho ditado:’’Quem pergunta quer saber!’’Acrescento com o maior prazer: Bem-aventurados, todos que observam, analisam e questionam! Só o questionamento pode nos levar à outras formulações e, enquanto houver insatisfeitos no mundo, todo questionamento será sempre bem vindo. Há questões que trago comigo desde os tempos intra-uterinos. É claro que não identifiquei todas e, nem muito menos resolvi, no entanto, uma coisa é certa: essas questões definem minha personalidade, meu caráter, meu senso de realidade e, acima de tudo, minha capacidade de me reinventar e de sonhar o que serei quando amanhecer.
Agora, são três da manhã, ainda quero escrever mais. Sinto que posso pegar os raios de sol, antes que eles toquem a terra... No entanto, dormir é preciso, escrever não é preciso!

Subjeticidade

Subjeticidade
Augusto Bapt.

“...A vida aqui nessa cidade ainda é muito rudimentar, apesar dos computadores instalados, em cada esquina, em cada bar...(*)
Escrevi esses versos para uma canção, na tentativa de expressar uma certa insatisfação frente às contradições expostas no tecido da cidade do Rio de janeiro. Cidade em que nasci, cresci, vivo e estou convencido de que, quando morrer, não serei enterrado junto com meu corpo em cemitérios que respaldam o domínio da civilização greco-romana sobre meus princípios transmilenares, que constituem minha fé pagã, me orientam e me mantem como sou ou como penso e quero ser. “Um cidadão comum como qualquer cidadão...”, que vive cada partícula de sua cidade, entra e sai dos becos e botecos, sobe e desce morros e ladeiras sem ter que pedir,pagar propina ou ser atingido por um “olhar colonial” de quem quer que seja, nem mesmo da loura no outdoor na propaganda da Du Loren e nem do Cowboy, num comercial de Marlboro ou da família eurocentrada, vendendo Kolinos com sorriso Colgate e, muito menos dos gringos que circulam pela cidade e, autoritariamente, esmolam: “samba um pouquinho, aí!Pra a gente aprender!”
Assim, durmo, sonho, sonâmbulo passeio por entre os obstáculos, habilidosamente, sem me ferir, mesmo sabendo que ao divagar por aí, estou exposto às variáveis da vida. Mas,
O que seria de mim, sem as tais variáveis? Justo eu, que venho atravessando décadas e décadas, entre sonhos bons e pesadelos tenebrosos, transando com noites, fecundando madrugadas, pra perpetuar minha espécie e amanhecer mais vivo ou mais integrado ao ato de ser cúmplice do acontecimento humano, que se espalha por todo o planeta e quanto mais se explica, menos se entende. Minha primeira experiência de sociabilidade ou vivência comunitária, fora de casa, se deu num campo de futebol. Lá, pude observar,
por todos os ângulos, as características dos meus iguais e dos meus diferentes. Comecei
a jogar futebol muito cedo, sete/oito anos já disputava os campeonatos do meu bairro, Villa Americana, Queimados, que naquele tempo era distrito de Nova Iguaçu, agora é Município. Lembro exatamente, como foi minha primeira partida. Lateral direito, minha posição inicial, depois me tornei volante, experimentei outras posições, mas, até hoje, sou apaixonado pela camisa 5 e pelo poder de armar, desarmar e traçar linhas imaginárias, do campo de defesa ao campo de ataque. Enquanto escrevo, sinto a emoção de vestir, pela primeira vez uma camisa da Adidas, um short Silze, não lembro a marca do meião e como não tinha grana pra comprar chuteiras,fiz minha estréia de Kichute. Marquei, lancei, gritei, ralei, suei, sangrei. Ganhamos! 3x1. O futebol me livrou dos ácidos lisérgicos, da maconha, da cocaína e das religiões. Me aproximou à poesia, à filosofia e à política. A condição para a primeira namorada ocupar um lugar no meu coração, era gostar e entender de futebol. Como eu era radical na década de 1970!
Depois de me afogar nas linhas insandescidas do Capital de Karl Marx, conhecer a crítica sagaz de Michel Focaut, viajar nas Náuseas de Sartre, entender os surtos de pagelância de Darcy Ribeiro e cantar Jongo com solo de Mestre Darcy Monteiro (Serrinha), amanheço e corro por entre os esguios e perfumados Eucaliptus de Jardim
Palmares, bairro da minha adolescência. Esses anos regados a delírios e saltos mortais de poetas do rock nacional, preconizando uma atitude política que ainda alcançaria a população, mesmo depois que eles já estivessem mortos: “Brasil, mostra sua cara, quero ver quem paga, pra a gente ficar assim...” e “Que país é esse?” “ polícia para quem precisa, polícia para quem precisa de polícia”. Assim amanheço, passeio pelas ruas da lapa, Glória, dou umas voltas na Praça Paris e Aterro do flamengo, embarco em um Cruzeiro que flutua em nossas ondas, ouço as maritacas, me entorpeço com o forte cheiro da “Dama da noite”, lamento tantos oitis pelo chão... qualquer dia desses, enlouqueço e coloco-os numa salada de frutas como se fossem kiuís, Sapotis ou Morangos do nordeste. Certa manhã, percebi algo diferente no ar, parecia o início de um tempo futuro. Elegi o presidente e concordei com a escolha do ministro da Cultura.
Bom Dia! Amanheci!

Nosso Cumbabá maior.

Foram tantos encontros, nos lugares e situações mais diferentes possíveis. Aquele homem negro, alto, forte presença marcante em qualquer parada. Quando o conheci, já havia conhecido o Mestre Darcy. Logo, me passou pela cabeça, uma das ideias que cultivo como se fosse um ovo que precisasse ser chocado e protegido, durante algumas décadas, para que nenhum mal externo o impeça de gerar uma criatura nova,uma obra de arte ou um projeto novo.

Mestre Umberto era um perfeito Gliô. Conversamos sobre várias coisas, em muitos momentos me peguei "chapado" com o grau de esclarecimento e lucidez daquele mestre, que sempre pode me ouvir e me orientar, de acordo com sua compreensão de mundo. Um privilégio que tive, conviver com ele, desfrutar do seu carinho paterno, seu respeito de homem negro e sua extrema habilidade de ensinar, sem falar na elegância...era um verdadeiro Lord Black Brazilian man.
Nunca consegui juntar o "quarteto Cumba". Darcy, Messias, Délcio e Umberto. Chego a pensar que nem eles nem ninguém tenha conseguido realizar esse encontro. Por outro lado, tive momentos intensos com cada um, que me valem pra toda a minha vida. Ah! O Délcio compõe o quarteto Cumba...mas, é o caçula e pra nossa felicidade, tá vivo e em plena atividade intelectual, produzindo horrores e maravilhas, pra ressaltar algo que ele gosta de enfatizar sobre os contrastes das coisas.
Sei bem, porque não consegui escrever sobre os Mestres, logo após suas mortes...Só agora me sinto em condições de fazê-lo. Estou apenas começando. Salve os nossos Cumbas! Salve o Jongo Contemporâneo!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Rascunho imprevisível

Há coisas que não podemos prever, ainda mais quando não somos videntes, profetas ou coisa parecida... Quase sempre estamos catando algo no ar, no chão, na água, nas pedras brutas, polidas ou em qualquer grão de areia, que nos permita algum tipo de viagem sobre realidades ou surrealidades, próximas ou distantes.
Entre todas as minhas vocações, vale dizer, que não são poucas, ás vezes me confundo quanto ao grau de prioridade e acabo dando mais atenção a umas em detrimento de outras.
Sei que isso não acontece só comigo, alguns amigos apresentam esse tipo de anomalia também...pelo menos, não estou sozinho nessa. Salve a solidariedade!
Pensando sobre o cata-cata que fazemos em nossas andanças pela vida, objetiva e subjetiva, consigo perceber o quanto catamos "coisas" desnecessárias e, mesmo depois que constatamos que são desnecessárias, temos uma certa dificuldade de jogar fora, nos apegamos e somos levados a um estado "sentimentalóide", que nos faz pensar que aquilo que catamos em alguma esquina da vida é parte de nós e por isso, somos obrigados a carregar por todo sempre, como uma cruz, enfim, como se fosse uma condenação em função de algum delito cometido.
Todas as vezes que passo por uma pessoa com características de morador de rua, invariavelmente, abro essa janela e deixo entrar golpes de ventos com antigas reflexões sobre a complexidade da condição humana.
Ao mesmo tempo que somos sensíveis, somos capazes de tolerar e conviver com a insensibilidade dos outros a nossa volta. Como é possível acostumar-se com o processo de degradação daquilo que temos de mais valioso, nossa integridade física e moral? A necessidade impõe regras de sobrevivência, que muitas vezes, não conseguimos cumpri-las.
Aqui na cidade do Rio de Janeiro, pelo menos, dois fenômenos assumem o protagonismo na cena urbanística. O aumento descontrolado do lixo, residencial/comercial e a insana multiplicação de "moradores de calçada". Esse lixo superpoderoso, é fonte de ratos, baratas e outros insetos invasores. Os "moradores de calçadas, além de causarem interferência visual, olfativa, atuam como representantes diretos de uma casta, extremamente, desfavorecida.
Em outras palavras, grandes metrópoles são palcos de grandes acontecimentos, interessantes e desnecessários, supérfluos. Poucas, pouquíssimas estão livres dessa realidade.
Por outro lado, não precisa ser gênio ou super dotado pra prever um "colapso geral", daqui a mais duas décadas. Sem querer assustar ninguém nem botar lenha na fogueira, só queria deixar aqui, o quanto estou preocupado com a minha cidade e com a sanidade contemporânea. Até a próxima!

Amarelose.

Amarelose.

Augusto Bapt.

A rua Riachuelo sempre me gerou uma curiosidade amarela.Teria sido inspirada em um riacho ou não tem nada a ver? Vai ver que é só por conta dos dias chuvosos. Quando chove um pouco mais forte, ela se parece mais um rio que uma rua...

Recebe de tudo, tudo que vem trazido pelas correntezas amarelas, que descem de Santa Teresa e leva para os arcos da Lapa amarela. Aqui na esquina, onde moro, no 221 apto 210, que dá pra Nossa Senhora de Fátima e pra Riachuelo, da minha janela vejo um verdadeiro espetáculo das águas amarelas do barro do morro amarelo.

Quase todas as ruas amarelas do centro dessa cidade amarelada pelo sol amarelante que insiste em amarelar tudo a sua volta, tem árvores amarelas, que dão uns frutos amarelos, que caem sobre os carros amarelos... ninguém, ninguém, mas, ninguém nessa cidade consegue se livrar da amarelose.

Uma espécie de overdose de sol amarelo que com um imperceptível toque de uma das pontas de seus raios amarelos, transforma qualquer Ser vivo ou objeto inanimado em mais uma de suas cobaias amarelas.

De vez em quando, vejo pontos amarelos se deslocando de um lado pro outro, ora lento, ora em uma velocidade estonteante... levei um tempo pra identificar o que eram aqueles pontos...

Agora já sei! Quando lentos, são os Oitis, que o sol amarelou... Quando ligeiros, são os ratos amarelos de fome procurando algum alimento amarelo trazido pelas águas amarelas que o barro do morro amarelou.

domingo, 15 de agosto de 2010

Templo da escrita.

Penso que seria muito interessante e, ao mesmo tempo, muito complicado se todos pudessem escrever tudo o que pensam, no exato instante em que pensam. Algumas áreas do conhecimento
humano estão procurando dar conta dessas preocupações. Minha questão aqui, não é se vamos resolver isso, nesse século ou nos próximos, estou atraido pela importância desse acontecimento,
tão subjetivo, quase imperceptível, no meio da correria da vida das pessoas. Qualquer atividade que não esteja no campo das prioridades dos indivíduos, pode ser deixada pra depois, é comum, ouvirmos por aí: "Ah! Depois eu escrevo !" ou "Depois eu anoto!"
Quando começei a me encantar pelas letras, pelas palavras, pela escrita e, principalmente, pela leitura, foi como se estivesse entrando em um templo... encantado, é claro. Em resposta a essa grande oferenda dos Deuses, escrevi aquilo que considero, como meu primeiro texto e guardo até hoje, alguns trechos na memória. Minha idade? Nove anos ! O título era pomposo, me lembro muito bem: " Contato esmeralda." Estava, realmente, em um estado de encantamento, por algumas coisas
e pessoas. Além de muito contente, por estar de volta à casa que havia nascido, na Rua São Paulo, Vila Americana, Queimados, lugar no mapa, onde começei as duas atividades que gosto muito de fazer e que sempre estiveram na minha lista de prioridades: Jogar futebol e escrever.
Nunca mais fui o mesmo, depois da minha primeira partida de futebol...nunca mais fui o mesmo, depois do meu primeiro texto escrito. Tudo que penso ou escrevo, de uma forma ou de outra, me remete aquela situação de extrema satisfação, ser respeitado, defendido, protegido, elogiado e considerado " bom de bola", era como receber uma bênção especial das lideranças da comunidade e um "freecard", pra circular acima do bem e do mal, uma vez que o campo de futebol era nossa maior central de contatos, era o " formador de opniões", que definia todo comportamento da comunidade e era a grande vitrine pra pessoas de gerações diferentes.