domingo, 16 de dezembro de 2012

Dialética da leitura

Escrever, não pode mesmo ser uma atividade só emotiva. Agora, sei o quanto me valeu minha dedicação à poesia. O quanto fiz pra acreditar no meu interesse por essa forma de expressão, que nos momentos mais difíceis da minha vida, me ajudou a revirar-me e a reinventar-me. Já cheguei a pensar que resolveria todos os meus problemas através da poesia e, que a poesia resolveria todos os problemas do mundo...bobagens, ingenuidade de poeta! Ao longo da vida, venho respeitando minha intuição, em quase tudo que faço ou deixo de fazer, ainda não ganhei na "mega sena", mas já acertei no amor. Dois pilares na minha família, foram decisivos para o meu envolvimento com a linguagem escrita: Meu pai, exímio contador de "causos", semi-analfabeto e minha mãe, alfabetizada, cantora do melhor repertório de samba, que já escorreu pelos leitos desse Rio de Janeiro. Comecei a ler, antes de escrever. Em seguida, aprendi que pra escrever bem, era necessário ler bastante, pra estreitar a relação com a língua, conhecer os códigos, entender as artimanhas da arte de escrever. Assim, saí devorando tudo que encontrava pela frente. Tudo que atraía meus olhos, merecia ser lido. Ler, passou a ser uma das "coisas" mais interessantes, comuns e, ao mesmo tempo, especiais pra mim. Minha intuição sempre me chamou pra esse meio, no entanto, nem sempre atendi ao seu chamado, se tivesse atendido com mais precisão, já teria produzido muito mais. A introspecção é um traço marcante em minha personalidade e decisivo em meu comportamento. Tenho observado, que sou capaz de ficar só comigo mesmo, por tempo indeterminado, sem sentir falta ou chamar a presença de outra pessoa pra dividir qualquer que seja a atividade em questão, o que não quer dizer, que eu goste ou prefira fazer tudo sozinho...muito pelo contrário, adoro parcerias e coletividades, as leituras mais transformadoras da minha vida foram realizadas em grupo, em fases diferentes do meu desenvolvimento como pessoa. Tanto ler quanto escrever, são atividades onde o leitor ou escritor, exerce a função de interlocutor entre o texto e o receptor e, converte-se em uma coisa e outra, simultaneamente, à medida que escreve, lê...e à medida que lê, escreve. Quero situar com isso, que há um diálogo de confronto, imprescindível, entre leitura e escrita, escrita e leitura, com objetivo principal de gerar e tornar compreensível a ideia .

sábado, 17 de novembro de 2012

Rascunhos apresentativos

Quando comecei a pensar um projeto literário, que contemplasse a imensidão de anotações guardadas nas gavetas, pastas, caixas, arquivos, agendas antigas e guardanapos amarelados, juro, que não imaginava a dimensão desse empreendimento. Ao me voltar para os tais escritos, fui obrigado a relê-los. Essa releitura me levou a outros caminhos emocionais, que não tomaria, se não reencontrasse esses rascunhos. Dei de cara com sensações, já quase esquecidas, na penumbra, qual a chama de uma vela, no finzinho. Além de me atracar com esses "pseudos-textos", posso chamá-los assim, porque a maioria não passava de uma geringonça de garranchos, que me trouxe um alto grau de dificuldade até, pra decifrá-los. Afinal de contas, rascunhos são rascunhos, a gente produz como pode e deixa pra lá. Uma das funções primordiais do rascunho é não deixar uma ideia, ou o sentido central de uma ideia, se perder. Ao longo do período, que fiquei cuidando dos meus rascunhos, redescobri, reaprendi e aprendi uma série de coisas sobre mim mesmo. Como por exemplo, por quê guardar tanto rascunho? Descobri que sou apaixonado por processos científicos, ainda que seja só pra fazer arte. Por isso, guardava esses rascunhos como se estivesse guardando códigos de uma fórmula, para criação de alguma arma de guerra. Quando penso nisso, impossível não lembrar de uma conversa com o filósofo e professor Júlio Tavares, quando falávamos sobre "Jongo contemporâneo" e ele do alto de sua sabedoria dizia: "...Quem tem um conceito, já ganhou metade da guerra!" Tenho que admitir que estou trabalhando, conceitualmente, desde que comecei a me expressar publicamente. Daí, a causa de tantos rascunhos. Outra coisa que aprendi, é que cada rascunho é múltiplo de si. Quero dizer, que se eu voltar várias vezes no mesmo rascunho, posso produzir vários textos diferentes, é como se o rascunho fosse um radical, que se combina com diversos prefixos e sufixos, ou um pré-roteiro que pode receber alterações no seu início e no seu final. Para ser honesto comigo e com minha fase de aspirante a escritor, sempre soube que não ia dar conta de todos os rascunhos, alguns seriam publicados, tal como foram escritos, só seriam transcritos. Ao mesmo tempo, precisei admitir, dessa vez, pra fortalecer o conceito "rascunho-gráfico", que esse livro, jamais seria concluído ou finalizado, estaria sempre em fase de elaboração, seria sempre um monte de rascunhos inacabados. Tenho rascunhos da adolescência e não paro de produzi-los, onde vou chegar com tantos rascunhos? Por isso, resolvi começar esse texto, na intenção de utilizá-lo na apresentação do meu primeiro livro de reflexões sobre o exercício da memória afetiva, através da arte de escrever. Ao contrário do que possa parecer, produzo muito rascunho, porque sou inquieto, crítico e auto-crítico o suficiente pra ficar anos sem escrever nada, só ouvindo, lendo, pesquisando e re-significando o barato de escrever. Ao mesmo tempo, gosto tanto do que faço e acredito tanto no meu "taco", que sou capaz de afirmar: Essa é a apresentação que sempre quis pra esse livro. Boas reflexões para todos.

Bipolar

Às vezes, me parece que ser bipolar é saber viajar, de um polo ao outro, sem parar... Como se fosse um raio na velocidade imperceptível de um piscar... Assim, enquanto escrevo e pisco percebo com quantas piscadas vejo um verso e com quantas pinçadas pinço um cisco... Essa noite sonhei que estava numa pescaria, colocava a isca no anzol, lançava o anzol na água e não fisgava a peixaria... depois de algum tempo, já exausto, me rendi com as mãos pro alto e decidi que só ia pescar poesia... Ser bipolar é confundir a meta de um pescador com a de um poeta. Daquele dia pra cá, escrevo sempre que penso em pesca. Não sei com quantos peixes se faz uma peixada nem quantos versos tem uma poesia pescada. Ah!Isso não sei, o importante é que pesquei... É claro que não contei a quantidade de piscadas. Ser bipolar é se comprimir entre os polos, pra se explicar... A arte do pescador é pescar peixes no mar, já o poeta tem a arte de ciscar ciscos no olhar.

Raciocínio negrológico

Em uma casa de terreiro, nasce o sambista, que faz samba de terreiro. O samba feito no terreiro, quase sempre é numa roda com mais de um sambista. Em uma roda de samba, nascem várias ideias, inclusive, a de criar uma escola de roda de samba de terreiro... Pra que nasçam outros sambistas, herdeiros daqueles que criaram as primeiras rodas de sambas e os primeiros sambas de terreiro. Nessa mesma casa, com terreiro, roda de samba, sambistas e muitas ideias, reinventa-se a lógica de ser "humano negro", uma espécie de negrolosofia.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Zumbiurbano

Esse entardecer tá cheio de vontade, de me debulhar em versos crus, Escarnecer minha sobriedade e dar meus grãos aos urubus... Enquanto o sol se devora, assim, a meia luz, aquela espiga de milho já é bagaço, depois que gerou fubá, que virou cuscus, sem deixar vestígios, no tempo e no espaço, para que ninguém encontre-nos... Eu, o entardecer, o sol e o milho, tipo, pai, espírito santo e o filho... Abrasados, abraçados, nus, sob a sombra, do perdão, do pecado, e da cruz... Nossas almas vendidas, por qualquer conto de réis! Nossos corpos marcados, por linhas e pontos cruéis... Tal qual em ritos vudus, em que sonâmbulos vagam por aí, como notas perdidas de um blues... Sons que sangram a carne nos porões da cidade, que de vez em quando, samba, chora e ri... No fundo sou tudo isso! Faço meu próprio feitiço, sou herdeiro de Zumbi!!!!!! Poema para iniciados, pra falar da "questão sangrenta" dos negros, que não querem mais sangrar, em nome de nenhuma ordem social, econômica e política. Já sangramos demais por doutrinas e ideologias desiguais.

sábado, 13 de outubro de 2012

Rascunhos de nós mesmos

Na tentativa de não desperdiçar meu fluxo natural de ideias, após pensar, me virar de um lado pro outro, passar noites em claro, perambular por mil e tantas madrugadas, carregando vários sonhos e projetos quase impossíveis, consegui articular-me e equilibrar-me, entre o peso das experiências e a leveza plumária da inteligência, pra iniciar um trabalho literário, de cunho investigativo sobre a funcionalidade daquilo que todos nós, já conhecemos como "rascunho." Isso mesmo, aquela parte de tudo que escrevemos ou tentamos escrever, que só usamos como base, pra algo que ainda não sabemos ao certo o que será, um esboço à espera de uma finalização, que pode não acontecer. Enfim, o alicerce de toda elaboração textual, que só permanece em seu formato original e para além do seu tempo, se for esquecido. Quando lembrado, deixa,imediatamente,de ser o que é pra ser obra de arte, após ser transformado, finalizado, ninguém mais quer saber de suas características, todos só tem olhos pro resultado final, como se fosse possível, na construção de uma casa, por exemplo, depois de levantar as paredes, emboçá-las e pintá-las, esquecermos do piso e do alicerce, que é a base de sustentação de tudo, ou como em uma sociedade, que tem em sua base a mão de obra operária, mas não se lembra de cuidar e respeitar essa base. Pensando sobre a natureza e a raiz das "coisas", resolvi me colocar no lugar desses estranhos seres abstratos, que tem ancestrais dinossáuricos na idade da pedra, nas paredes das cavernas... primeiro pra entender que, sem eles não haveria literatura, em seguida, pra defendê-los como um dos produtos mais importantes em qualquer processo de elaboração inteligente, que resulte em linguagem escrita. Assim, como os rascunhos que produzimos, nós, humanos, passamos por vários estágios e, enquanto crescemos somos rascunhos de nós mesmos, de nossos pais e de nossos filhos.Por tanto, o respeito que queremos pra nós, deve ser exigido pra todos, que se desenvolvem como nós. Esse é um manifesto de insatisfação e profunda indignação com a relação desrespeitosa, que a maioria dos escritores e outros profissionais que lidam com a feitura de textos, tem com os seus rascunhos. Os rascunhos são responsáveis por tudo, sem eles não há obra final!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A ilusão, suas luzes e suas trevas

As experiências que vivemos, servem pra nos informar o quanto suportamos e o quanto sofremos com tais experiências. O quanto somos capazes de aproveitar o que há de bom em cada situação e o quanto nos ferimos com os descaminhos que a vida apresenta, contra nossa vontade interior. Aqui, desse ponto da minha história de vida, estou convencido de algumas coisas, entre essas coisas, estou convencido de que só quem já viveu, sobreviveu e voltou a viver, sem medo das ondas e baratos da vida, pode pensar que entende ou sabe o que é a ilusão. Só quem já se iludiu uma, duas, três ou mais vezes, pode ter treinado o instinto ou mesmo desenvolvido a sensibilidade e a inteligência, pra estar atento e pronto diante das luzes sedutoras de uma nova ilusão. Pronto pra mergulhar de cabeça e iludir-se por completo ou pronto pra se defender de mais uma armadilha da ilusão. Em outras palavras, é vivendo que se aprende a saborear os doces e os amargos da vida e, falando em sabores memória palatal ou gustativa, quando era criança não conseguia comer "jiló", achava que era a coisa mais amarga do mundo, até conhecer uma particularidade que se localiza por entre as vísceras das galinhas, vulgarmente, chamada de "fel", que tem um sabor, realmente, insuportável. Hoje, sou apaixonado por jiló, que está entre os alimentos que mais gosto. Abri essa janela da memória gustativa, pra falar um pouco de outras memórias afetivas, como por exemplo, a olfativa. Um dia desses, tava lembrando o quanto já me incomodei e até passei mal com certos cheiros que a vida me apresentou. Em função dessas lembranças, comecei a pensar no quanto um perfume pode ser, extremamente, perigoso...um perfume pode nos conduzir a um estágio de sedução, daí, a um salto mortal atrás de uma ilusão sensorial, que muitas das vezes, acaba em desilusão. No entanto, "quem não morre não vê Deus", diz um velho deitado. "A vida é uma só, companheiro!", disse o poeta. "Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas, sabe menos do que eu...", escreveu o poeta Vinícius de Moraes e aproveito pra fechar com Gonzaguinha: " Vá viver e aprender, vá viver e aprender, malandro! Vá compreender, vá tratar de viver! Buscar a luz, luzir-se. Iludir-se e desiludir-se e ir luzir em vão. Tudo isso sem se tornar refém da ilusão. Mas, quem é capaz de resistir a um sequestro relâmpago, orquestrado pelos fios invisíveis das luzes dos sonhos? Agora, vou dormir. Boa noite!

domingo, 9 de setembro de 2012

A esfera futurista

Ainda na década de 1970, me lembro de uma fonte de informações, muito presente, porém, muito estranha também. Mesmo assim, não posso dizer que não serviu aos meus instintos literários, estou me referindo à fotonovela. Durante um certo período da minha infância, era comum encontrar revistas( fotonovela)perdidas ou descartadas, como fazemos com os periódicos, com validade vencida. Me lembro que achava estranho e me incomodava bastante, o biotipo representado nas estórias, ali contadas. Aquelas personagens não lembravam ninguém do meu convívio imediato, da minha família ou meus amigos, logo, não eram porta-vozes de algo que eu deveria me interessar. Assim, achávamos as revistas, folheávamos, treinávamos nossa leitura, senso literário, crítico, analítico, conversávamos entre nós( eu, meu irmão e alguns amiguinhos)e juntávamos todas as revistas encontradas, depois de lidas, queimávamos todas, pra que não chegassem em mais ninguém. Além das fotonovelas, ouvia rádio, já participava do culto ao vinil, as fotos e informações sobre os artistas, constituíam um acontecimento à parte, já lia HQ( história em quadrinho)que veio suplantar todo e qualquer interesse por fotonovelas. Não tinha TV em casa, Não lia Jornal, não frequentava cinema, teatro ou museu e não era ainda um leitor de livros. Não ia à igreja, frequentava terreiro de umbanda e candomblé, Participava do ciclo das chamadas "brincadeiras de roda" e era um iniciante na arte futebolística. Tinha uma vida social bem sortida e pelo fato de minha infância ter sido Rural e semi-rural, tinha as "criações" pra cuidar: porcos, galinha, cachorros, gatos, porcos da índia, passarinhos e até uma Égua, que se tornou inesquecível, pra todos da nossa família. No entanto, marcado mesmo ficou meu irmão, com a morte de sua cadela, "Joinha". Foi uma tristeza duradoura, o garoto fez até greve de fome.Impressionante!

Futebol e virtudes

Tenho feito do universo futebolístico uma espécie de "mola propulsora" para pensar e compreender uma série de coisas e acontecimentos, próximos e distantes de mim, ao longo de toda a minha vida. Minha infância se dá por toda a década de 1970. Por volta de 1975/76, começo uma relação mais afetiva e efetiva com a linguagem escrita e com o futebol, ainda não sabia nada de Geografia ou astronomia, logo, estava longe de poder comparar a bola de futebol com as dimensões circunferenciais do planeta terra ou imaginar que os times eram constelações de estrelas. Sabia pouco de matemática, por isso, não podia brincar com a geometria que define as linhas divisórias do gramado e o seu perímetro, um retângulo somado a outro retângulo, por onde desfilam os artistas, com seus traços abstratos, feitos enquanto se deslocam de um lado para o outro, pelos espaços vazios, evitando o choque entre os corpos ou provocando choques, afim de ampliar a perspectiva de um desenho final, física então, nem se fala. Toda essa noção de corpo, espaço, movimento e repouso, velocidade, tempo, intensidade, reflexo, visão de jogo e espírito de equipe ou "sujeito coletivo", que a arte do futebol congrega em sua prática, certamente, foi minha primeira grade curricular e o campo de futebol, minha sala de aula. Aos nove de idade, já estava, totalmente, tomado por todo esse universo fantástico e, intelectualmente, profundo. O campo era minha casa, sala de aula, sala de estar, se deixassem, almoçava e jantava ali, no meio daquela geometria plana, de linhas brancas sobre a superfície verde, com a bola agarrada aos pés, formando minha própria caneta esferográfica, pronta pra executar novos e inusitados traços. Entre dez e onze anos, já era considerado craque da comunidade, com direito a nome na calçada da fama e tudo, se tivesse isso lá, naquela época. Mesmo não sabendo nada de política, já convivia com uma sensação de poder e influência sobre os outros garotos e até mesmo, adultos da nossa localidade. A Organização política de um time em campo, começou a chamar minha atenção, nessa fase. Defesa, meio campo e ataque ou seja, defensores, armadores e finalizadores, ao mesmo tempo, todos que estão no jogo, podem cumprir todas essas funções, se for necessário, afinal de contas é um processo coletivo, são "onze" corpos, representando "um", como se o time armado em campo, fosse um discurso, com início, meio e fim. Uma espécie de síntese diplomática da comunidade, literalmente, em uma batalha campal.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Desnecessidades diárias

Em uma das canções que fazem parte do repertório do meu primeiro cd solo, falo da questão cíclica da engrenagem da nossa memória. Acredito que ao longo do tempo em que crescemos, vamos colecionando uma multiplicidade de informações e nesse pacote, entram coisas que queremos e coisas que não queremos. A problemática colocada aí, configura-se assim: As coisas que queremos, são aquelas que escolhemos por imaginar que elas cabem em nós, mesmo não sabendo ao certo o que fazer, guardamos, ao guardá-las, elas correm o risco de virar rascunhos desnecessários, de algo tão ideal, que nunca realizaremos...não importa, nós guardamos. Na outra estante, gaveta ou baú, seja lá o que for...estão as coisas que não queremos, aquelas coisas que não escolhemos, mas por alguma fraqueza de espírito, elas entraram em nosso território íntimo, não sabemos como expulsá-las e nem sabemos o que fazer com elas, mas guardamos...doentiamente, guardamos! A letra da canção que escrevi pro cd Margem Zen, diz o seguinte: tanta coisa pra pensar, tanta coisa pra fazer...tanta coisa pra lembrar, tanta coisa pra esquecer... Penso que nossa memória faz esse ciclo o tempo todo, lembra ,esquece, lembra, esquece,lembra e esquece. Até porque seria muito cansativo lembrar eternamente de alguma coisa,imagina uma luz acesa pra sempre, só gastando...imagina a sua memória só lembrando, sem nunca esquecer de nada...você poderia ganhar o nobel da Lembrança e daí? Bem, pra complicar um pouco mais nossa problemática inicial, penso que o esquecimento é natural e orgânico, quanto mais você se preocupa em lembrar, mais se esquece. Quanto mais se preocupa em descobrir o que fazer com as coisas que escolheu pra você, mais se esquece daquelas que não escolheu, mas guardou pra depois. Agora, imagina só, se as coisas de sua escolha podem virar lixo, que dirá essas que você não escolheu? Podem virar lixo muito mais rápido. Pra finalizar, o esquecimento é como guardar algo em um lugar fechado e escuro, com fortes probabilidades de apodrecer...descobrir o que fazer com o conteúdo que se quer esquecer é outra ação.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Códigos afetivos

No infinito universo dos códigos que compõem os mais variados tecidos de comunicação entre as pessoas e entre os muitos grupos sociais, quero aqui, de forma desprendida, falar sobre alguns. Não sei, exatamente, quando comecei a desenvolver um tipo de relação diferenciada com as plantas, especificamente, com as flores...me lembro de uma experiência muito marcante, ainda na infância, que mudou a minha relação com a cultura dos alimentos da terra, ou seja, a agricultura. Depois daquela experiência, nunca mais olhei uma semente, sem pensar em seus ciclos, até se transformar em alimento, pra nós ou para outros animais. Esse acontecimento marcante não alterou minha forma de olhar as plantas e nem as flores...por enquanto, só havia mudado com as sementes, plantas e flores ainda não tinham despertado minha paixão. Como já disse, não sei ou não lembro quando isso aconteceu. As primeiras plantas que chamaram minha atenção, que causaram algum tipo de curiosidade,foram três, todas pelos nomes que são chamadas e duas, além dos nomes, suas formas sempre me intrigaram. "Comigo ninguém pode", "Espada de São Jorge" e "lança de Ogum". Durante toda a minha infância, convivi com essas plantas em minha casa e nas casas dos vizinhos. Ficava tão intrigado que chegava a me perguntar: Será que essas pessoas combinaram? Por quê, todas tem as mesmas plantas em casa? Bem, só consegui algumas respostas, quando fui levado por minha mãe, às primeiras "sessões de terreiro"...lá, comecei a entender que aquelas pessoas estavam comunicando códigos de uma mesma cultura ou de uma mesma comunidade. No "Centro", assim é chamado o lugar onde praticam-se as cerimônias espirituais, pude conhecer outras plantas que não conhecia, entre elas, o Jasmim, o Alecrim, a Guiné, a Arruda...e lá estava a santíssima trindade verde: "Comigo ninguém pode", Espada de São jorge e Lança de Ogum. É claro que alguma coisa em mim mudou, por conta da onipresença dessa "trindade verde", sabia que estavam comunicando algo que eu não podia dar conta, naquela fase da minha vida. As primeiras flores que fizeram parte da minha história, felizmente, não foram as "flores de enterro" e nem as "flores pra namorada"...foram as "flores na janela". Trata-se de uma sequência ou um conjunto de latinhas de óleo de soja, que minha mãe abria, com um corte na lateral, fazia uns furos, enchia de terra com estrume(cocô de vaca)plantava umas plantinhas charmosíssimas e colocava nas janelas...todos os dias, tínhamos flores nas janelas da sala, do quarto, da cozinha e sempre recebíamos visitas de colibris apaixonados. Essas foram as primeiras flores da minha vida. Mais tarde, já no ensino médio, no curso de Ciências Agrícolas do CTUR( Colégio técnico da Universidade Rural)nas aulas de Botânica, dois portais novos se abrem pra mim...começo, literalmente, a entender o "sexo das flores" e assimilo uma esquisitice: cheirar todas as flores pra experimentar o seu poder de sedução e domínio sobre os nossos sentidos. Hoje, estou convencido de que, muita coisa mudou pra mim, depois daquelas aulas de Botânica. Nunca mais olhei uma flor como antigamente.

domingo, 22 de julho de 2012

Manhãs e sonhos na mesa do café

A repentina sensação, que se instaura quando nos livramos de algum pesadelo, quase sempre, tem clima de salvação, certo? Acredito ainda que todos os pesadelos se formem por conta de alguma percepção de perigo, em torno de nós, no plano real. Como já disse, em vários textos, não sou especialista em pesadelos, sempre tive bons sonhos. Me parece que meus pais, com todas as suas dificuldades conjugais, conseguiram desenvolver e aplicar, uma espécie de pedagogia dos sonhos, em seus filhos, como eu era o caçula, pude aproveitar o máximo desses ensinamentos familiares. Entre as muitas experiências que passei em minha própria casa, com meus irmãos, minha mãe e meu pai, essa era a vedete da família. Todas as manhãs, antes e durante o café, o ato de acordar, significava se preparar para contar os sonhos da noite, bem ou mal dormida. Por conta desse ritual familiar, aprendi a definir manhã, como a parte do dia, que começava depois do "canto do Galo", alguns mugidos do gado, latidos de vira latas, alguns gritos de trabalhadores rurais e o fantástico preparo da cena matinal em nossa casa. A mesa do café era recheada e farta de viagens e caminhos interpretativos de uns, sobre os sonhos dos outros...importante negritar que, naquele tempo, ninguém lá em casa, havia lido o clássico de Freud "interpretações dos sonhos", de certo, psicanálise não era algo que nós sentíamos falta, pelo contrário, aquele exercício de despertar dos sonhos, sem perdê-los de vista, era genial. Agora, posso dizer: minha "casa de infância" foi foda! Meus pais arrebentaram a banca do sistema psico-sociológico do Brasil. Minha casa, minha família são referências na minha formação literária e intelectual, toda minha vontade de ler, escrever, pesquisar, conceituar, defender proposições. Enfim, adquirir posicionamentos político-ideológicos e me interessar por música, poesia, filosofia e ciências sociais...tudo começou lá, na mesa do café, no interior do meu barraco de estuque e sapê.

sábado, 21 de julho de 2012

Linha tênue, outra parte

Enquanto escrevia os primeiros textos, não dominava nada do mundo das letras, muito menos do universo poético, que é um segmento específico dentro e fora da literatura, acredito que o poético interpenetra várias outras artes e campos do conhecimento humano. Naquelas ingênuas primeiras linhas, já havia uma carga de seriedade, que eu não tinha noção, por não saber a dimensão daquela atividade, fui fundo, me joguei! Fiz com o poético, o mesmo que fazia com o "poço", mergulhei de cabeça e foi o tchibum mais marcante e duradouro de toda a minha vida. Até aqui, não tenho o que reclamar dos estágios alcançados no meu processo de investigação poética. A linha que corta a realidade, abre passagem pra fantasias, desconstrói concretudes e instaura o império das possibilidades impossíveis, confunde-se, facilmente com o que as crianças fazem e os adultos classificam como algo menor, chamando de "brincadeiras", pra que não precisem decompor seus personagens, tirá-los do seus lugares de poder em relação ás crianças, seres frágeis, incapazes de viver alguma coisa interessante fora do alcance dos seus pais. Assim caminha a humanidade, dominada pelo patriarcado, passo a passo ao abismo da obsolescência. Hoje, procuro equilibrar a seriedade inerente à minha história de vida, os traços da minha personalidade com as escolhas que fiz. Estou certo de que a "escrita poética" é uma linguagem, extremamente, poderosa e sempre que escrevo, exerço esse poder da forma que aprendi, submergindo e emergindo...indo ao fundo e vindo à superfície...mergulhando, mergulhando, como faz aquela ave, o "mergulhão", em seu trabalho pra se alimentar...compreendendo os desafios do mar, dos rios, das águas, do mato, do campo e das cidades...enfim, trabalhando, trabalhando, quebrando pedras, apagando incêndios ou incendiando engenhos e paióis...como diz a canção:" Já não brinca mais...trabalha!" Na verdade, nem percebi o instante em que a linha tênue e invisível, que separa a seriedade da brincadeira, arrebentou e como um rebento, me tornei poeta e não mais só um brincante das palavras. O poético é um lugar, uma situação, uma condição psicofísica, onde se chega sem mapa, sem bússola, sem bola de cristal e sem GPS. No entanto, toda caminhada tem seu sacrifício, o poético é sagrado e maldito ao mesmo tempo. Por isso, não me arvoro em defesa do bem ou do mal, todo poder é desigual, defendo o fluxo como definidor de todas as ações vitais e transformadoras em qualquer sistema.

Linha tênue

Muitas vezes fui às profundezas de sentimentos fronteiriços. De tanto ir, cheguei a pensar que podia brincar de ir e vir, livremente, sem me ferir e sem interferência de outros. Cheguei a pensar também, que podia não mais voltar...aí, me apaixonei por uma linda e triste canção que diz: " Vou! Vou pra não voltar e onde quer que eu vá, sei que vou sozinho...tão sozinho amor! Nem é bom pensar, que eu não volto mais, desse meu caminho..." Essa é, sem dúvida, uma das canções inesquecíveis no meu repertório pessoal. Assim, como brincava de "Ioiô", aquele enrola, desenrola, sobe e desce, sem preocupações com o tempo, brinquei de ir e vir...levei tão a sério essa brincadeira que um dia, entrei em um terreno baldio, que na verdade, era o quintal de uma casa abandonada, onde havia um poço, com água pela metade, aparentemente, limpa e sem perigo. Ali, sozinho, experimentei meu primeiro momento de confronto psíquico com a sensação de estar no fundo do poço. Ali, sozinho, iniciei-me na arte do mergulho solitário e sem equipamentos adequados. Nunca tinha, se quer, escutado a palavra, "apneia", que só apareceu na minha vida com a morte, por afogamento, do ex-técnico do Flamengo, Cláudio Coutinho. Agora, entendo que essa experiência de mergulhar até o fundo das emoções, não é brincadeira. Após a primeira vez, que mergulhei naquele poço, minha percepção foi extremamente alterada. Havia descoberto um novo portal para exercitar minha liberdade, minha solidão, meus medos, minha intimidade, minha respiração, a relação prazerosa com o som e o silêncio, o direito de submergir/emergir e a consciência de estar livre no fundo e preso na superfície. Foi mais ou menos, nessa fase que escrevi meu primeiro texto, uma tentativa de colocar no papel, os detalhes de algo que se apresentava pra mim, como um acontecimento extraordinário e inesquecível. Esse texto foi baptizado de " Contato Esmeralda". De lá pra cá, tenho colecionado rascunhos de minhas reflexões sobre os desafios de "ser", "estar", "não ser" e "não estar" no mundo. Tudo isso vai sempre estar ligado aquele ritual iniciático dos "mergulhos", que a princípio, era só uma brincadeira, depois se transformou em uma prática reflexiva. Mesmo quando escrevo só pelo exercício da expressão escrita, articulando as palavras, como em um jogo de combinatórios improváveis, sei que estou lúdico...mas, não estou brincando.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Tinta preta, página branca

Tantas e tantas vezes, desviamos o foco da lente do nosso prazer central.Em questão de segundos, aquilo que poderia ser uma eureca, abertura para uma criação genial, se transforma em qualquer coisa ou em uma obra mediana, daquelas que sentimos vontade de rasgar e jogar no lixo mais distante possível, pra que fiquem longe até de nossas gerações futuras. A velocidade que nossos neurônios desenvolvem para gerar uma ideia, deve ser a mesma desenvolvida para desfazê-la. Se imaginarmos os movimentos neuronais, baseados nos micros e velozes movimentos de retinas,que executamos, dormindo ou acordados, podemos ter uma ideia vaga, porém, aproximada desse fenômeno neuronal. Bem, esse texto, por exemplo, não tem a intenção de ser um tratado de neuro-ciência, até porquê, sou poeta e não neurocientista. Ao mesmo tempo, não tenho mais como esconder minha preferência por temas científicos ligados aos avanços dos nossos domínios, em relação ao funcionamento dos neurônios. Comemoro sempre que fico sabendo alguma novidade sobre os estudos neuro científicos, sei o quanto a investigação poética precisa dessas novas linhas cerebrais... Quando fecho meus olhos, tudo é preto. Se houver alguma claridade, aquela escuridão, em confronto com a luz, entra em crise policromática, passa por alguns estágios entre o polo branco e o polo preto, resultando em vermelho alaranjado. Desde criança, faço esse exercício, fechar os olhos e direcioná-los, para o sol. uma explosão de raios, em um espaço de tempo mínimo, quase imperceptível e uma paleta abstrata de cores imaginárias se abre na mente, como se o arco íris, fosse uma obra pintada por algum artista, que sentiu vontade de representar no céu, a fonte das cores. Vale destacar nesse texto, a importância da investigação científica, sem distanciá-la dos fatos comuns, até mesmo do universo das atividades infantis. É, extremamente, científico o fenômeno lúdico chamado "brincadeira", na vida de qualquer criança. Para que o prazer aconteça, é preciso saber brincar e para além de saber, tem que brincar direito, com respeito, ética, ou seja, é preciso brincar sério. Isso é, profundamente, científico, lúdico e poético. Por tanto, algo mais que tinta preta na página branca.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Desnecessidades fundamentais

Se eu não tivesse nascido na rua São Paulo, na Vila Americana, Queimados, Baixada Fluminense, em uma casa simples, pensada e construída por meu pai e minha mãe, com recursos e em propriedade da família...Se eu não tivesse nascido por último, no primeiro dia do mês de Junho...Se eu não tivesse visto e ouvido meu avô andando pela sala, enquanto solava seu pequeno Oito baixos...Se eu não tivesse me queimado no ferro de passar roupa, ainda de carvão...Se eu não ouvisse as dezenas de melodias cantaroladas ou gungunadas por minha mãe, enquanto realizava as atividades da casa...Se eu não tivesse frequentado várias sessões espirituais em terreiros, antes dos dez anos...Se eu não ficasse tentando entender os acordes da orquestra dos sapos, grilos, pássaros noturnos, com participações especiais de cachorros loucos e galos vespertinos... Se eu não tivesse dois irmãos colecionadores suburbanos, um de quadrinhos, outro de vinil...Se eu não tivesse me apaixonado por futebol, samba e por black music ao mesmo tempo...Se eu não tivesse aprendido a ler em casa com minha mãe...Se eu não tivesse escrito meu primeiro texto com início, meio e fim aos nove anos...Se eu não tivesse desenvolvido paixão platônica por duas vizinhas bem mais velhas...Se eu não visse meus pais em plena harmonia, brigarem e até se separarem...Se eu não experimentasse montar cavalos, campear e cavalgar só por prazer... Se eu não passeasse pela comunidade, à bordo de uma "prancha", puxada por uma égua chamada estrela...Se eu não tivesse visto Estrela ficar prenhe, parir,envelhecer, depois morrer...Se eu não tivesse assistido o parto, ajudado a criar e em seguida, visto meu pai vender o potro de Estrela...Se eu não parasse de mijar na cama aos três anos...Se eu não tivesse sido amamentado por minha mãe, até quatro anos... Se eu não tivesse bebido leite nas tetas das vacas...Se eu não tivesse tentado comer merda,pra saber que merda não se come...Se eu não tivesse comido terra, pra combater lombrigas...Se eu não tivesse sido iniciado na cultura dos chás, antes de serem industrializados...Se eu não tivesse lido Flash e Gordon...Se eu não tivesse sonhado com serpentes gigantescas voando pelo espaço...Se eu não tivesse vontade de ser astronauta...Se eu não quisesse ser poeta...

domingo, 6 de maio de 2012

A cada coisa que coloco no papel, percebo que escrevo pra me salvar de mim mesmo. Me salvar das minhas próprias armadilhas. Escrevo pra inventar caminhos, rotas de fuga pra sair dos labirintos e engenhocas utilizadas na arte de pensar. Quanto mais escrevo, mais me convenço de que nunca vou recuperar e juntar todos os rascunhos, esboços e textos inacabados, demarcadores dos meus vários estágios com a arte de pensar sobre a arte de escrever. São duas dificuldades básicas, a primeira está relacionada ao sacrifício que eu teria pra encontrá-los, no caos das minhas transmutações, até porque, não estão guardados em um único lugar. A segunda é minha incompetência para terminá-los, ou seja, transformá-los em obra de arte finalizada, pronta para o consumo humano. Por esses motivos, sempre que escrevo algo, ainda que considere interessante, me assusto, quando lembro do volume de escritos que já produzi ao longo desses anos. Chego a pensar que já criei um fantasma textual, pelos conteúdos desenvolvidos em tais rascunhos de minhas reflexões. Toda vez que lembro deles, me conscientizo da importância de escrever, mesmo quando não tenho tempo ou paciência para trabalhar as ideias, até que se tornem algo indispensável, para mim e para mais alguém. Lembrá-los, me inspira, inspirado, escrevo sobre os escritos deixados em algum canto do esquecimento. Esse exercício me ajuda a pensar no quanto vivemos condicionados aos rascunhos impostos pela correria e pelos transtornos do cotidiano, que nos oprime e não nos permite concluir nossos sonhos, do jeito que gostaríamos. Assim, somos obrigados a viver os rascunhos de nossas próprias vidas, no lugar de nossas vidas reais. Consciente disso, escrevo, ainda que seja, sobre os meus escritos, esquecidos no tempo, perdidos por aí, sem acabamento.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Cabelo pro alto

Se todas as pessoas nascessem e crescessem, totalmente, carecas, cabelo não seria um tema relevante. No entanto, no reino animal e, mais especificamente, entre os mamíferos, ter pelos é muito natural.
Um mamífero muito respeitado e, que se destaca por sua farta cabeleira, carinhosamente, chamada de "juba", é o Leão.
Acredito que por conta de não termos uma língua comum, entre humanos e os outros animais, ainda que a "juba" de um leão cause algum tipo de incômodo, nenhum humano pode sequer, esboçar através de palavras sua insatisfação estética com o comportamento capilar de um leão.
Nessa mesma linha de raciocínio, penso que nenhum outro animal, por mais atrevido ou desavisado que seja, tenha a coragem ou despreparo de se meter nessa
área tão particular, íntima, invadir a privacidade do leão e comunicar incomodações, que possam ser interpretadas como: "por quê você não penteia essa juba?" "Por quê você não corta essa juba?" "Cara, essa sua juba chama muito atenção das fêmeas!
Enfim, acredito mesmo que os leões não sofram esse tipo de aluguel por parte dos outros animais, a ética de convivência entre eles, deve ser mais avançada. Cada um vive suas próprias questões e, talvez, não tenham tempo pra se preocupar com a vida alheia.
Já o ser humano, que se acha o animal mais inteligente, um animal racional, com poder de "pinça" entre o polegar e o indicador, com um currículo repleto de grandes invenções, seguidas de grandes destruições, guerras, genocídios, holocaustos, planos superiores e P.H. Deus para o extermínio do planeta terra e da própria humanidade. Esse animal, sim é o mais perigoso e sem ética que existe e passeia pela sala de estar, pelos quintais e praças da nossa querida nave-mãe.
Esses estranhos homo sapiens não aprenderam ainda o que é diversidade, ainda se assustam entre si. Não conseguem vislumbrar a dimensão da espécie humana em toda a sua ampla paleta de tons e matizes diferentes, não entendem multiculturalidade e diferencialidade, ou seja, a multi mistura das diferenças, sem descaracterização, agressão ou imposição de um padrão sobre outros.
Atrasados, contrariam toda e qualquer possibilidade de entendimento mútuo, em defesa de pontos de vistas ensimesmados. Continuam iludidos, pensando...nem sei se pensam ou roubam pensamentos, assim, como roubam culturas, invenções, objetos de artes, saberes, linguagens, enfim, tesouros de outras civilizações...
Estou certo de que nunca triunfará um padrão único de comportamento, entre as várias culturas diferentes que ocupam esse planeta, a diferencialidade é a meta-física do que se apresenta como multicultural.
Um dia entenderão, que a diferença é uma mera invenção de quem quer ser igual e não consegue. Logo, não conseguindo ser igual, não consegue se diferenciar dos iguais, sendo assim, qualquer padrão de comportamento que alcança a diferenciação, lhe é superior e pode ofuscá-lo, esmagá-lo, esteticamente, falando.
"Quem não tem cabelo, não carrega trança..." o leão tem juba, por isso, ele balança...meu cabelo se comporta como se fosse um feixe de fios em movimentos curvilíneos ou um aglomerado de flechas multi direcionais, sou filho de Oshóssi...pro alto,pra baixo, pra frente, pros lados, na verdade, meu cabelo é, extremamente, bem atirado, esvoaçado, livre, trançado e dançante...meu cabelo chega a ser excitante!
Se todos nascessem e crescessem carecas, o cabelo não seria um tema relevante. No entanto, sou mamífero, tenho pelos e gosto de tê-los, do jeito que eles são, naturais e meus.

domingo, 8 de abril de 2012

Abril, abricó abra e coma

Essa coisa do calendário, assim como qualquer dispositivo antigo, tem suas curiosidades. Desde criança que observo com extrema atenção a estrutura espaço-temporal de cada mês.
Nesse instante, enquanto escrevo, me lembro algumas implosões neuronais, no interior da minha caixa craniana, quando percebia qualquer insignificante diferença entre um mês e outro...foram muitas implosões.
No entanto, a mais marcante foi quando entendi, que os meses são iguais, com possibilidades de comportarem eventos diversificados dentro de suas estruturas programadas.
Depois dessa grande implosão, que me pareceu o meu "Big Bang" particular, todas as outras foram sugadas por um túnel no meu imaginário, como se fosse um "buraco negro" voraz de referenciais físicos e meta-físicos, provocadores de forças contrárias, que demarcam a presença de eventos diferentes no gráfico comportamental de uma estrutura em estado de repouso e com isso causa movimentos.
Ainda na minha infância, pra minha felicidade,vivida quase, integralmente, em áreas rurais ou semi-rurais, tive o privilégio de conhecer muitas frutas. Cada fruta nova que meu organismo assimilava, significava uma implosão ou uma sequência de implosões.
Dias atrás, passeando no aterro, hábito que cultivo com profunda satisfação, retomei uma sensação saborosíssima.
Enquanto pedalava, na beira da praia do Flamengo, observei que os pés de Abricó estavam todos carregados de amarelinhos, polpudos e cheirosos...ao mesmo tempo, lembrei quando fui apresentado a um fruto chamado abricó, pela primeira vez, lá na Vila Americana, Queimados, baixada fluminense, onde nasci e vivi parte da minha infância.
Além dessa gostosa lembrança, pensei na quantidade de moradores de rua que poderia desfrutar a doçura da polpa do abricó e ainda na possibilidade de parentesco entre essa fruta e o mês que estava começando, já que os dois acontecem dentro da mesma estrutura espaço-temporal, que aprendemos a chamar de Abril.
Agora tenho certeza que essa implosão não será consumida pela fúria voraz de nenhum dublê de "buraco negro". Esse é aquele tipo de acontecimento pra ser lembrado e contado por muitas gerações.
Um dia abriram um abricó na minha frente e eu caí dentro. Não me lembro o mês, nem o ano...só sei que foi um acontecimento intra craniano inesquecível.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Divagações noturnas

Faz algum tempo que não tenho hora pra dormir. Ao mesmo tempo, até hoje, não sei dormir a qualquer hora, ainda não aprendi. Me surpreendo sempre que percebo minha discreta ausência de sono, porque mesmo não tendo hora pra dormir, quando durmo, durmo bem.
Outra coisa bacana nisso tudo, é o compromisso do meu subconsciente com sonhos interessantes...quero dizer, que durante muitos anos, não fui afugentado por pesadelos, daqueles que você acorda e o susto permanece em suas entranhas.
De certa forma, já me sinto um privilegiado por isso, por outro lado, quem tem sonhos interessantes como os que já tive, corre um risco muito grande: ficar nas mãos da angústia. São tantos sonhos, que não dá tempo de saborear os diferentes sabores, aí a gente acorda, com o paladar meio confuso, como dizem os velhos deitados, "com aquele gosto de cabo de guarda chuva na boca e aí, nem café amargo resolve.
Nesse momento não sei, exatamente, se estou acordado, dormindo, angustiado ou com insônia, sinceramente, não tenho tempo pra definir o que se passa comigo agora.
Cinco coisas, consigo dar conta, não é um pesadelo, estou escrevendo mais uma página, estou ouvindo BB King, com sua histórica Lucy e a mulher da minha vida, está cuidando da casa da nossa vida, dos nossos sonhos, insônias, sonos profundos e angústias, afinal de contas, somos humanos em plena viagem pelo Kosmo. Nossa! Acho que vou dormir! Boa noite!