quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Dezembrinas

Aqui, no Rio, escutamos muito a expressão: " É mais um fevereiro!", referência ao mês do carnaval, ainda que o evento multimídia, multicultural e multifacetado aconteça em março. Outra expressão muito comum, que já deu nome a uma obra musical do nosso inesquecível, Tom Jobim "Águas de março", referência às fortes chuvas que caem no mês de março, ainda que chova mais em janeiro ou mesmo em dezembro, como tem sido esse nosso dezembro de 2010. Me recuso a actreditar que as águas de março estão se antecipando e caindo mais cedo, por conta das alterações climáticas e devido ao mal estado de saúde do planeta terra.Por isso resolvi chamar essas águas de Dezembrinas...
Na década de 1990, fiz uma canção que tinha o seguinte refrão: " Brisa leve, dezembrina, brisa que me traz a menina..." escrevi esses versos pensando na gestação de minha filha, ainda no ventre da mãe, que nascera em dezembro.Tenho percebido que esse dezembro de 2010 está muito diferente dos outros. Nas últimas semanas, quase todas as tardes,enchendo a boca da noite e molhando as nádegas da madrugada...desce um pancadão bem pesadão, que deixa cariocas e turistas assombrados. Sem falar nas condições, ainda precárias, da estrutura de escoamento das águas da chuva.
Ontem,um pouco depois que caiu um daqueles pancadões assustadores, me peguei observando a presença elegante dos oitiseiros, aqui da Nossa senhora de Fátima...e,descobri algo que faltava nos meus mapas afetivos das árvores e frutas da minha vida. Descobri que o Oiti é uma fruta dezembrina. Que prazer! Ah! Que gosto de Oiti, que de tão poético, parece que já comi.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Resíduos conceituais.

Tenho pensado, dito, escrito e cantado os resíduos de um procedimento que inventei pra criar um corpo melódico, baseado na métrica tradicional do Jongo. Depois de vários experimentos, sozinho e com outros músicos, cheguei a conclusão de que se tratava de uma nova linguagem musical. No útero da MPB com todos os seus séculos de história e estágios de elaboração, seus vários eventos inovadores e transformadores, que tanto contribuiram para formação de muitos de nós e nos ajudaram a entender melhor nosso DNA de cidadão Brasileiro, que ainda preserva sua maior característica: a de construtor. Nosso País ainda está em construção,em muitos aspectos, apesar de passearmos por entre ruínas em muitas cidades por aí. Aqui, na cidade do Rio de janeiro, não é diferente. Nossas comunidades vivem sob uma ditadura arquitetônica, gerada na extrema necessidade de ter um teto qualquer pra se defender dos surtos do tempo, esse Deus implacável, que adverte com ações marcantes e definitivas.
Quando me dei conta dessa paisagem recorrente nas periferias e nas favelas, saquei que era a imagem do desespero que aquelas pessoas viviam ou morriam, sei lá!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Fatologia.

Desde muito pequeno,acredito que, depois que consegui escrever meu primeiro texto completo, com início, meio e fim, passei a me sentir um garoto diferente dos meus colegas. Descobri naquele momento, que além de ser "bom de bola", era bom da cachola. Começo ali, aos nove anos de idade, minha relação com as letras, com as palavras, com as idéias, com as imagens abstratas, com as cores, formas e sons do insondável.
Naqueles minutos mágicos e de encantamento, eu experimentei pela primeira vez, a aventura de uma viagem literária, apenas com o ingresso de ida, pelo que entendi daquele acontecimento, não voltei ainda e já estou convencido de que essa viagem é interminável.

domingo, 17 de outubro de 2010

Hoje, acordei de bom humor. Escrevi um samba pra comunidade…
Nesse samba não quis falar de dor e nem criticar a sociedade...
Por tudo que a minha gente passou e passa na atualidade...
Tentei só falar de amor,comemorar a minha liberdade...
Que raios me partam,são tantos que partem,sem provar desse mel...
E sou um poeta,cantor,colibri,bico pólens no céu...
Voando por aí,vejo o quanto o mundo é cruel...
E mesmo quando amo, sinto um sabor de fel.
Nesse instante,o tema ficou triste..
E até a musa do meu samba,chorou...
Não dá pra esconder o que existe...
Por trás, de tudo que agente já sangrou....
Mas,derepente,a melodia abriu um clarão...
A harmonia seguiu pra findar a canção...
A comunidade cantou de emoção...
E estava na pista um novo refrão...

Polens no céu...Bapt Jongo in samba contemporâneo.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Rascunhos de outro dia

Se todos os dias fossem rascunhos um do outro, não haveria dia completo, ou seja, todos estariam por se tornar um dia pronto e acabado. Assim, não precisaríamos acalentar aquela idéia tola de esperar pelo "grande dia", pelo dia da felicidade ou completude. Estaríamos consciente de que, tudo em nós e a nossa volta é um grande rascunho daquilo que realmente desejamos ou queremos realizar. Dessa forma, teríamos uma visão mais definida dos nossos próprios sonhos, anseios e do nosso lugar e presença no mundo. Logo, nos sentiríamos mais incomodados e menos acomodados em nossas certezas e verdades, por outro lado,mais afeitos às mudanças, menos conservadores e desapegados às formas e padrões ultrapassados.
Enquanto não sabemos expressar e defender nossas próprias questões, vamos acumulando rascunhos em nossa massa crítica, afim de, transformá-los em arte final e confrontá-los com as proposições, propostas e solicitações que nos apresentam todos os dias que, logicamente, são rascunhos saidos da cabeça de alguém.

Augusto Bapt

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Salve o jongo Contemporâneo!

Olá,comunidade Homo-Senzaliensis!!!Salve o Jongo Contemporâneo!!! Um grande Sigabéns para todos os Quilombolas espaciais,astronautas do insondável,território fora de domínio da colonização eurocêntrica!!! Salve o Jongo Contemporâneo!!!Que sigalivre a neo-cosmologia dos astros pós-coloniais!!! O Universo tá em constante mutação,logo,a consciência humana não pode se entregar a estagnação e permanecer aprisionada a dogmas,formas ultrapassadas que não dialogam com outras perspectivas...sigabéns!!!

Passagementalização

Passagementalização

Password passworld que se abra pra eu passar

Com meu passo passbird daqui pra outro lugar...

Passo solto a passear solto passos pelo ar

Compasso composto de sola e calcanhar...

Pé ante pé dois pés constantes contrações

Saltos sobre saltos pertinência paralela

Contrapontos entrepostos marcantes posições

Pés de Pato pés de Ganso pedalam a tabela...

Campo contra campo Campo de concentração

Pés pobres pés descalços sobram na favela...

Templos passatempos pré-ocupação

Teatros boatos retratos permanência amarela.

Signos códigos chaves decodificação

Data show bit megabit gigabit descanso de tela.

Poética Afética.

Vivo nessa cidade desde que nasci. Até hoje, tive montanhas silícicas de tempo concentrado, entre tempestades e calmarias, pra executar duas simples lições: conhecer e amar esse micro/macro universo chamado Rio de Janeiro.
Muito antes do meu encontro ou flerte com a indústria cultural do cinema/música, na década de 1980, já havia mergulhado em águas barrentas de lagoas formadas pelas chuvas periódicas que regam os diferentes jardins da cidade. Os naturais, os feitos por pessoas comuns e os sofisticados projetos paisagísticos, desenvolvidos por especialistas como Burle Marx, inspirados na “vocação do Rio para o turismo”. Balela ou não, nossa cidade é nosso tudão!
“ Cidade maravilhosa, terra de encantos mil...cidade maravilhosa, coração do meu Brasil...”
Se considerarmos que o pulmão é Amazônico, o cérebro Sãopaulônico sobre corpos nordestinos, o Rio pode ser um tipo de coração que bate em andamento prestíssimo, quase saltando pela boca.
Minas, com sua “vocação para o turismo histórico religioso e sertão literário, seria uma espécie de metacoração que bate noutro tempo, mais dentro do corpo.
-Bate!
Era um parceiro do meu time, gritando e fazendo sinal pra que eu puzesse a bola no peito dele.
Vai! Essa era minha resposta, seguida de um chute preciso, porém, sem muita potência. Naquela época eu era muito magrinho, mau conseguia dar conta do peso da bola e das chuteiras ou melhor dos Kichutes.

sábado, 21 de agosto de 2010

Diamante Feminino

DIAMANTE FEMININO

Augusto Bapt
Claudia Miranda

No interior da pobreza, nas experiências de deslocamento por conta da preservação da integridade física ou na guerra, propriamente dita, as mulheres não foram/são, coadjuvantes como em muitas formas de legitimação da história fica representado. A mulher como invenção patriarcal está subjulgada e fixada como subalterna. Por outro lado, já está mais que provado, ao longo do processo histórico da maioria das civilizações, que esse papel inventado pelo macho, não corresponde a realidade concreta,ou seja,é resultado da necessidade que o macho tem de impor o seu poder o tempo todo, ininterruptamente,desrespeitando toda e qualquer regra de convivência social e humana. Esse quadro revela uma disfunção psíquica no comportamento masculino, que a psicanálise, certamente, já explica. Nesse contexto, e em âmbito restrito, a primeira pessoa a sofrer as conseqüências perversas dessa patologia do macho é sua própria mulher...que,além de ser, indispensável para qualquer passo dado por ele( o homem), é ela que fica responsável por toda a base familiar: organização da casa em todos os sentidos e educação dos filhos,concluindo assim,sua participação direta e decisiva em todas as etapas do processo civilizatório do homem.Por tanto,a representação da mulher como parte fundamental e indispensável para o surgimento,manutenção e perpetuação da humanidade precisa ser repensado e revisto na psique humana,para que o indivíduo-mulher deixe, definitivamente,de viver à sombra da existência masculina.

Quanto tempo

Não importa quanto tempo resta / não sou fantoche nem arroz de festa
nada me prende,nada me segura /acendo velas na sala escura..
rezo pros santos ,bem à minha moda / jongando livre no meio da roda
que vai tomando todo o terreiro/ mulher guerreira dança pro guerreiro
que tira ponto,aquecendo o couro/ toca o tambor e desentoca o ouro
que brilha junto com canto do galo/só quem entende pode acompanhá-lo....
se não entende já se enfeitiçou/ jongo é um jogo de preto sabido
da armadilha que o branco armou, pra amarrar preto desentendido
da história , antes do colonizador/ que preparou futuro garantido
criando leis, no templo – academia /sugando sangue do tataravô
jongo é um jogo de sabedoria/ que nasce na luta com o PODER
por isso ,criança não se metia,pois não sabia ainda esse SABER

Trincheiras Mercadológicas

Trincheiras Mercadológicas.
Augusto Bapt.
Penso não haver melhor lugar para se promover um produto que não em um Mercado.
Na década de 70, fica perceptível, o fenômeno conhecido como “êxodo rural”, resultante do abandono das populações do campo em direção aos grandes centros urbanos. Lembro como se fosse hoje, no ano de 1971, estava em Campos, estado do Rio de janeiro. Ainda muito criança, ouvia as pessoas falando: “Vamo pra cidade! Vamo pro Rio!” Não conseguia entender o que queriam dizer. Só conhecia a periferia da tal cidade que aquelas pessoas desejavam...salvo,uma atividade ou outra,meu bairro de nascimento era muito parecido com o lugar que elas queriam deixar pra trás.
Em Queimados, onde nasci, Baixada fluminense e, especificamente, no meu bairro (Vila Americana) e adjacências, me recordo de duas atividades marcantes que geravam ocupação e alguma renda para os homens da localidade. Uma era a extração (clandestina)de areia dos leitos de rios. Outra era chamada de “corte de grama”, que nada tem a ver com aparar grama de jardins, mas tem a ver com jardins, já explico. Como havia uma quantidade considerável de terrenos inutilizados,sem plantio e nem moradias e em sua maioria, a superfície era coberta por uma espécie de tapete verde...de vez em quando,de quando em vez,quase sempre se viam caminhões e homens cortando “placas de grama”,assim que eles chamavam os pedaços do tapete verde, cortados com extrema técnica,com o auxílio de uma enchadinha de cabo curto...Essa grama era vendida e replantada em jardins de mansões, praças públicas e gramados de condomínios fechados. Para mim e as outras crianças,aquilo não era trabalho,era um evento diferente pro nosso cotidiano.
Crianças, em todas as fases da vida, observam e ser adulto, os adultos querem preservar a condição lúdica e fantasiosa da criança, que o excesso de seriedade já não os permite. Esse embate começa dentro de casa e se estende pra sociedade. Começa quando nascem os filhos e só termina quando morrem os pais. Esse quadro, aparece muito bem representado, em nosso cotidiano, pela forma como se organiza nossa sociedade: um poder oficial a serviço de uma minoria e a maioria com necessidades de organizar o seu próprio poder.
Na sociedade em que fui criança, cresci, me tornei adulto, envelheço e mesmo, tendo lapsos de imortalidade, morrerei. E, morrerá comigo essa dialética absurda, que insiste em construir canais de diálogo entre o Poder oficial e as representações de poderes existentes dentro do seu campo de domínio. Certamente, por ter vivido minha segunda infância em Campos, interior do Estado do Rio de Janeiro,tive o privilégio de conhecer bem de perto um quadro social,econômico e cultural, extremamente, fiel aos tempos remotos de Casa grande e Senzala. Privilégio que vem da experiência de viver algo muito próximo daquilo que viveram meus ancestrais os homo-Senzaliens. Ou seja, aqueles seres humanos,vindos da África, impregnados de milênios e milênios de um processo civilizatório , entre seus iguais, derrepente, quase que por acidente, se deparam com os colonizadores europeus, em condições de desvantagens. São capturados, aprisionados, jogados em porões sombrios dos inesquecíveis Navios Negreiros, também conhecidos como “Tumbeiros”, devido ao grande número de africanos que morriam durante as viagens intercontinentais, por dentro do útero do oceano, lugar misterioso, assustador e mágico...capaz de lhes tragar a vida, a liberdade e a alma, entidades que sempre foram muito respeitadas por todos os Homo Senzaliens. Sobreviventes nos confrontos em terras africanas. Sobreviventes nos porões dos navios. Enfim, sobreviventes de todas as Senzalas que a História lhes reservou, são os únicos organismos humanos em condições químico-biológica de erguer a nova Civilização, essa que chamo Senzalienis.
Dois fenômenos surgidos entre as décadas de 1980 e 1990 - inicio de uma onda de construção de Shopping Centers e o surgimento/crescimento do fenômeno socioeconômico chamado popularmente de “ Camelódromo” – que segundo o olhar que estou lançando, podem ser definidos como “Trincheiras mercadológicas”- se levarmos em consideração que nas trincheiras de guerra os soldados são demonstradores/vendedores de vários produtos, criados e desenvolvidos por cientistas/tecnólogos, aprovados por seus chefes de Estados e sob o comando de seus Generais. As atividades citadas como o corte de grama, de cana e a extração de areia... também se enquadram, já que em todas elas encontram-se grupos entrincheirados e defendendo a sobrevivência pela carência de alternativas. A economia é um cobertor que não cobre ao mesmo tempo os pés e a cabeça.
São essas pessoas do êxodo rural que vão alterar de forma radical e, definitivamente, a paisagem urbana da cidade do Rio de janeiro. Essas pessoas vão ampliar as periferias e formar novas favelas no perímetro urbano, onde vão morar os formadores da classe operária carioca (COC)
Em toda grande cidade, podemos encontrar essa realidade: povoamento rápido, em condições não adequadas, favorecendo o alastramento de construções provisórias, que por falta de recursos e políticas públicas eficientes, se transformam em moradias definitivas. As favelas cariocas são exemplos desse desordenamento arquitetônico.
Nascidos no imediatismo de quem precisa de um abrigo, antes das próximas chuvas ou do próximo inverno, os Barracos se amontoam, por cima, por baixo, do lado, pela frente...escorando e protegendo uns aos outros, gerando uma estética enlouquecida, que Baptizei de arquitetura do desespero. Quando entendemos que esses grupos deslocados estão numa guerra pela sobrevivência e pela melhoria das condições de vida, entendemos também , que cada complexo de barracos é uma trincheira de guerra, onde os soldados são vendedores e vendidos, defendendo seus pontos de venda e revendendo qualquer mercadoria. Confundem-se com suas próprias muambas. Ora são consumidores ora são consumidos. Logo, todo e qualquer aglomerado de compra e venda é uma Trincheira Mercadológica. Feira Livre, Shopping Centers, Camelódromo. Hoje, na cidade do Rio de Janeiro, os grupos que circulam em busca de um business freqüentam, indistintamente, esses mercados. E, de uma forma ou de outra, todos estão entrincheirados, ou estão procurando sua trincheira. Cada um no seu grau de necessidade, lembrará do Shopping ao mesmo tempo em que pensa no mercado popular da Rua Uruguaiana, de Madureira, ou de Campo Grande. Por questões econômicas ou, meramente, afetivas.
INDUSTRIA DA MISERIA...
Por mais que nada seja tão uniforme, unânime e equilibrado, sócio-economicamente, estão todos ali, quase na mesma condição, lutando, diariamente pela defesa de suas vidas, sem perder a dignidade e em muitos casos, humanizando uns aos outros, através do exercício de cidadania e pertencimento do processo de construção de saídas para o desemprego e a exploração selvagem exercida pelos empresários do comércio convencional.
Esse trabalho se resume em um passeio criativo e sério,assim como são as brincadeiras de criança, quando estão defendendo o seu lugar no mundo dos adultos. Não somos crianças, também não somos o poder oficial, logo, somos uma representação do poder do povo em ação interventiva, no interior de uma Trincheira Mercadológica, no centro da cidade do Rio de Janeiro, apresentando o Jongo, como principal código genético do conceito artístico-musical:Jongo Contemporâneo, criado e desenvolvido pelos fundadores/compositores da banda Caixa Preta(Augusto Bapt e Rodrigo Braga)tendo como referência máxima dessa criação, a preferida do primeiro CD, a música “Caxanga Rosa”, que expõe o diálogo desse gênero, com a sociedade, mais precisamente, com a indústria Cultural. Jongo, uma espécie de amálgama tão antiga, resultante das falas, dos gritos, sussurros, gemidos e rezas oprimidas dos nossos ancestrais nos Navios Negreiros, nas Senzalas e nos Quilombos.
Em todos os momentos em que essa música foi apresentada ao público (qualquer público) ficou claro que se tratava de algo diferente nos porões da MPB. Atualmente, no subúrbio do Rio, precisamente, em Bento Ribeiro, acontece uma festa promovida por fãs da Caxanga Rosa. Entendendo o Jongo como uma de nossas estratégias mais antigas de construção dialógica entre o Homo-Senzaliens e o Homo sapiens ( representado pelo Homem da Casa Grande), podemos entendê-lo como linguagem , que se desenvolveu, secreta e misteriosamente, no âmago da psique do homem da Senzala em processo de descolonização e construção inteligente de seu discurso pós-colonial. Esse é o pressuposto mais significativo e relevante para o surgimento do Jongo Contemporâneo, canal decisivo para o fluxo do pensamento senzalience, rumo a um futuro próspero e incontrolável.
Ainda somos oprimidos, por isso estamos entrincheirados, com os nervos corroídos e os ânimos exaltados...
Palmas, rezas, cantos, tambores...
Mitos, ritos, gritos aflitos em ciclos de horrores...
-Calma!Tenha a santa paciência!
Diz o homem, que nunca passou fome nem teve que enterrar nenhum parente, feito um bicho indigente...
-Como eu tive que fazer! Você não sabe, por mim, nunca vai saber...Não me interessa a sua avaliação sobre o meu modo de sofrer, quem sabe da minha dor sou eu... e não quero vendê-la em nenhum mercado, por preço nenhum...meu sofrimento não é mercadoria...e tem mais, se a Paciência fosse santa, já teria feito um milagre pra esse povo parar de esperar tanto.
Ainda somos oprimidos, por isso estamos entrincheirados, cada vez mais excluídos e marginalizados, quando estamos reunidos somos insubordinados...
O trecho acima, atesta o quanto o indivíduo se sente, se torna mais forte e capaz de se manter vivo, quando se conscientiza de seu pertencimento histórico, seja pelas conquistas ou pela dor, provocada pelas perdas. Em outras palavras ressalta a fundamental importância do conhecimento e da informação como mecanismos imbatíveis para resoluções de problemas sociais e para o crescimento humanitário.
Uma questão milenar, continua atual, e devido a força de seu principal fundamento, permanecerá enquanto essa espécie existir. Trata-se de uma pergunta que gera uma brincadeira, quando somos crianças...para adolescentes e adultos estimula um fluxo de viagens intermináveis: advinha o que estou pensando agora? Automaticamente, crianças começam um jogo de advinhação que se transforma em um combustível poderoso para o imaginário livre e para o pensamento cognitivo, desvendar portais insondáveis que podem alcançar outras racionalidades. Como diz o velho ditado:’’Quem pergunta quer saber!’’Acrescento com o maior prazer: Bem-aventurados, todos que observam, analisam e questionam! Só o questionamento pode nos levar à outras formulações e, enquanto houver insatisfeitos no mundo, todo questionamento será sempre bem vindo. Há questões que trago comigo desde os tempos intra-uterinos. É claro que não identifiquei todas e, nem muito menos resolvi, no entanto, uma coisa é certa: essas questões definem minha personalidade, meu caráter, meu senso de realidade e, acima de tudo, minha capacidade de me reinventar e de sonhar o que serei quando amanhecer.
Agora, são três da manhã, ainda quero escrever mais. Sinto que posso pegar os raios de sol, antes que eles toquem a terra... No entanto, dormir é preciso, escrever não é preciso!

Subjeticidade

Subjeticidade
Augusto Bapt.

“...A vida aqui nessa cidade ainda é muito rudimentar, apesar dos computadores instalados, em cada esquina, em cada bar...(*)
Escrevi esses versos para uma canção, na tentativa de expressar uma certa insatisfação frente às contradições expostas no tecido da cidade do Rio de janeiro. Cidade em que nasci, cresci, vivo e estou convencido de que, quando morrer, não serei enterrado junto com meu corpo em cemitérios que respaldam o domínio da civilização greco-romana sobre meus princípios transmilenares, que constituem minha fé pagã, me orientam e me mantem como sou ou como penso e quero ser. “Um cidadão comum como qualquer cidadão...”, que vive cada partícula de sua cidade, entra e sai dos becos e botecos, sobe e desce morros e ladeiras sem ter que pedir,pagar propina ou ser atingido por um “olhar colonial” de quem quer que seja, nem mesmo da loura no outdoor na propaganda da Du Loren e nem do Cowboy, num comercial de Marlboro ou da família eurocentrada, vendendo Kolinos com sorriso Colgate e, muito menos dos gringos que circulam pela cidade e, autoritariamente, esmolam: “samba um pouquinho, aí!Pra a gente aprender!”
Assim, durmo, sonho, sonâmbulo passeio por entre os obstáculos, habilidosamente, sem me ferir, mesmo sabendo que ao divagar por aí, estou exposto às variáveis da vida. Mas,
O que seria de mim, sem as tais variáveis? Justo eu, que venho atravessando décadas e décadas, entre sonhos bons e pesadelos tenebrosos, transando com noites, fecundando madrugadas, pra perpetuar minha espécie e amanhecer mais vivo ou mais integrado ao ato de ser cúmplice do acontecimento humano, que se espalha por todo o planeta e quanto mais se explica, menos se entende. Minha primeira experiência de sociabilidade ou vivência comunitária, fora de casa, se deu num campo de futebol. Lá, pude observar,
por todos os ângulos, as características dos meus iguais e dos meus diferentes. Comecei
a jogar futebol muito cedo, sete/oito anos já disputava os campeonatos do meu bairro, Villa Americana, Queimados, que naquele tempo era distrito de Nova Iguaçu, agora é Município. Lembro exatamente, como foi minha primeira partida. Lateral direito, minha posição inicial, depois me tornei volante, experimentei outras posições, mas, até hoje, sou apaixonado pela camisa 5 e pelo poder de armar, desarmar e traçar linhas imaginárias, do campo de defesa ao campo de ataque. Enquanto escrevo, sinto a emoção de vestir, pela primeira vez uma camisa da Adidas, um short Silze, não lembro a marca do meião e como não tinha grana pra comprar chuteiras,fiz minha estréia de Kichute. Marquei, lancei, gritei, ralei, suei, sangrei. Ganhamos! 3x1. O futebol me livrou dos ácidos lisérgicos, da maconha, da cocaína e das religiões. Me aproximou à poesia, à filosofia e à política. A condição para a primeira namorada ocupar um lugar no meu coração, era gostar e entender de futebol. Como eu era radical na década de 1970!
Depois de me afogar nas linhas insandescidas do Capital de Karl Marx, conhecer a crítica sagaz de Michel Focaut, viajar nas Náuseas de Sartre, entender os surtos de pagelância de Darcy Ribeiro e cantar Jongo com solo de Mestre Darcy Monteiro (Serrinha), amanheço e corro por entre os esguios e perfumados Eucaliptus de Jardim
Palmares, bairro da minha adolescência. Esses anos regados a delírios e saltos mortais de poetas do rock nacional, preconizando uma atitude política que ainda alcançaria a população, mesmo depois que eles já estivessem mortos: “Brasil, mostra sua cara, quero ver quem paga, pra a gente ficar assim...” e “Que país é esse?” “ polícia para quem precisa, polícia para quem precisa de polícia”. Assim amanheço, passeio pelas ruas da lapa, Glória, dou umas voltas na Praça Paris e Aterro do flamengo, embarco em um Cruzeiro que flutua em nossas ondas, ouço as maritacas, me entorpeço com o forte cheiro da “Dama da noite”, lamento tantos oitis pelo chão... qualquer dia desses, enlouqueço e coloco-os numa salada de frutas como se fossem kiuís, Sapotis ou Morangos do nordeste. Certa manhã, percebi algo diferente no ar, parecia o início de um tempo futuro. Elegi o presidente e concordei com a escolha do ministro da Cultura.
Bom Dia! Amanheci!

Nosso Cumbabá maior.

Foram tantos encontros, nos lugares e situações mais diferentes possíveis. Aquele homem negro, alto, forte presença marcante em qualquer parada. Quando o conheci, já havia conhecido o Mestre Darcy. Logo, me passou pela cabeça, uma das ideias que cultivo como se fosse um ovo que precisasse ser chocado e protegido, durante algumas décadas, para que nenhum mal externo o impeça de gerar uma criatura nova,uma obra de arte ou um projeto novo.

Mestre Umberto era um perfeito Gliô. Conversamos sobre várias coisas, em muitos momentos me peguei "chapado" com o grau de esclarecimento e lucidez daquele mestre, que sempre pode me ouvir e me orientar, de acordo com sua compreensão de mundo. Um privilégio que tive, conviver com ele, desfrutar do seu carinho paterno, seu respeito de homem negro e sua extrema habilidade de ensinar, sem falar na elegância...era um verdadeiro Lord Black Brazilian man.
Nunca consegui juntar o "quarteto Cumba". Darcy, Messias, Délcio e Umberto. Chego a pensar que nem eles nem ninguém tenha conseguido realizar esse encontro. Por outro lado, tive momentos intensos com cada um, que me valem pra toda a minha vida. Ah! O Délcio compõe o quarteto Cumba...mas, é o caçula e pra nossa felicidade, tá vivo e em plena atividade intelectual, produzindo horrores e maravilhas, pra ressaltar algo que ele gosta de enfatizar sobre os contrastes das coisas.
Sei bem, porque não consegui escrever sobre os Mestres, logo após suas mortes...Só agora me sinto em condições de fazê-lo. Estou apenas começando. Salve os nossos Cumbas! Salve o Jongo Contemporâneo!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Rascunho imprevisível

Há coisas que não podemos prever, ainda mais quando não somos videntes, profetas ou coisa parecida... Quase sempre estamos catando algo no ar, no chão, na água, nas pedras brutas, polidas ou em qualquer grão de areia, que nos permita algum tipo de viagem sobre realidades ou surrealidades, próximas ou distantes.
Entre todas as minhas vocações, vale dizer, que não são poucas, ás vezes me confundo quanto ao grau de prioridade e acabo dando mais atenção a umas em detrimento de outras.
Sei que isso não acontece só comigo, alguns amigos apresentam esse tipo de anomalia também...pelo menos, não estou sozinho nessa. Salve a solidariedade!
Pensando sobre o cata-cata que fazemos em nossas andanças pela vida, objetiva e subjetiva, consigo perceber o quanto catamos "coisas" desnecessárias e, mesmo depois que constatamos que são desnecessárias, temos uma certa dificuldade de jogar fora, nos apegamos e somos levados a um estado "sentimentalóide", que nos faz pensar que aquilo que catamos em alguma esquina da vida é parte de nós e por isso, somos obrigados a carregar por todo sempre, como uma cruz, enfim, como se fosse uma condenação em função de algum delito cometido.
Todas as vezes que passo por uma pessoa com características de morador de rua, invariavelmente, abro essa janela e deixo entrar golpes de ventos com antigas reflexões sobre a complexidade da condição humana.
Ao mesmo tempo que somos sensíveis, somos capazes de tolerar e conviver com a insensibilidade dos outros a nossa volta. Como é possível acostumar-se com o processo de degradação daquilo que temos de mais valioso, nossa integridade física e moral? A necessidade impõe regras de sobrevivência, que muitas vezes, não conseguimos cumpri-las.
Aqui na cidade do Rio de Janeiro, pelo menos, dois fenômenos assumem o protagonismo na cena urbanística. O aumento descontrolado do lixo, residencial/comercial e a insana multiplicação de "moradores de calçada". Esse lixo superpoderoso, é fonte de ratos, baratas e outros insetos invasores. Os "moradores de calçadas, além de causarem interferência visual, olfativa, atuam como representantes diretos de uma casta, extremamente, desfavorecida.
Em outras palavras, grandes metrópoles são palcos de grandes acontecimentos, interessantes e desnecessários, supérfluos. Poucas, pouquíssimas estão livres dessa realidade.
Por outro lado, não precisa ser gênio ou super dotado pra prever um "colapso geral", daqui a mais duas décadas. Sem querer assustar ninguém nem botar lenha na fogueira, só queria deixar aqui, o quanto estou preocupado com a minha cidade e com a sanidade contemporânea. Até a próxima!

Amarelose.

Amarelose.

Augusto Bapt.

A rua Riachuelo sempre me gerou uma curiosidade amarela.Teria sido inspirada em um riacho ou não tem nada a ver? Vai ver que é só por conta dos dias chuvosos. Quando chove um pouco mais forte, ela se parece mais um rio que uma rua...

Recebe de tudo, tudo que vem trazido pelas correntezas amarelas, que descem de Santa Teresa e leva para os arcos da Lapa amarela. Aqui na esquina, onde moro, no 221 apto 210, que dá pra Nossa Senhora de Fátima e pra Riachuelo, da minha janela vejo um verdadeiro espetáculo das águas amarelas do barro do morro amarelo.

Quase todas as ruas amarelas do centro dessa cidade amarelada pelo sol amarelante que insiste em amarelar tudo a sua volta, tem árvores amarelas, que dão uns frutos amarelos, que caem sobre os carros amarelos... ninguém, ninguém, mas, ninguém nessa cidade consegue se livrar da amarelose.

Uma espécie de overdose de sol amarelo que com um imperceptível toque de uma das pontas de seus raios amarelos, transforma qualquer Ser vivo ou objeto inanimado em mais uma de suas cobaias amarelas.

De vez em quando, vejo pontos amarelos se deslocando de um lado pro outro, ora lento, ora em uma velocidade estonteante... levei um tempo pra identificar o que eram aqueles pontos...

Agora já sei! Quando lentos, são os Oitis, que o sol amarelou... Quando ligeiros, são os ratos amarelos de fome procurando algum alimento amarelo trazido pelas águas amarelas que o barro do morro amarelou.

domingo, 15 de agosto de 2010

Templo da escrita.

Penso que seria muito interessante e, ao mesmo tempo, muito complicado se todos pudessem escrever tudo o que pensam, no exato instante em que pensam. Algumas áreas do conhecimento
humano estão procurando dar conta dessas preocupações. Minha questão aqui, não é se vamos resolver isso, nesse século ou nos próximos, estou atraido pela importância desse acontecimento,
tão subjetivo, quase imperceptível, no meio da correria da vida das pessoas. Qualquer atividade que não esteja no campo das prioridades dos indivíduos, pode ser deixada pra depois, é comum, ouvirmos por aí: "Ah! Depois eu escrevo !" ou "Depois eu anoto!"
Quando começei a me encantar pelas letras, pelas palavras, pela escrita e, principalmente, pela leitura, foi como se estivesse entrando em um templo... encantado, é claro. Em resposta a essa grande oferenda dos Deuses, escrevi aquilo que considero, como meu primeiro texto e guardo até hoje, alguns trechos na memória. Minha idade? Nove anos ! O título era pomposo, me lembro muito bem: " Contato esmeralda." Estava, realmente, em um estado de encantamento, por algumas coisas
e pessoas. Além de muito contente, por estar de volta à casa que havia nascido, na Rua São Paulo, Vila Americana, Queimados, lugar no mapa, onde começei as duas atividades que gosto muito de fazer e que sempre estiveram na minha lista de prioridades: Jogar futebol e escrever.
Nunca mais fui o mesmo, depois da minha primeira partida de futebol...nunca mais fui o mesmo, depois do meu primeiro texto escrito. Tudo que penso ou escrevo, de uma forma ou de outra, me remete aquela situação de extrema satisfação, ser respeitado, defendido, protegido, elogiado e considerado " bom de bola", era como receber uma bênção especial das lideranças da comunidade e um "freecard", pra circular acima do bem e do mal, uma vez que o campo de futebol era nossa maior central de contatos, era o " formador de opniões", que definia todo comportamento da comunidade e era a grande vitrine pra pessoas de gerações diferentes.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Nós e os outros na Música Negra Contemporânea

Nós e os outros na música negra contemporânea

Augusto Bapt
As provocações vividas nos três dias de debate sobre Estética Negra alimentam essas idas e vindas conceituais que definem minha narrativa.
O processo natural do vai e vem que fazemos em nosso dia-a-dia, já nos exige total habilidade para ir e vir, sem esbarrar nas coisas, sem atropelar as pessoas, sem aplicar a ação inadequada e desperdiçar um instante precioso. Enfim, ”pra viver é preciso mestria”, muitos poetas já deixaram isso grafado em nossas mentes, muitos filósofos já problematizaram e esclareceram tal afirmativa e, imensos contingentes de mortais já provaram na carne a profunda importância do sentido oculto nessa máxima.
Acredito que a reflexão sobre as ações que praticamos e as que deixamos de praticar, diariamente, em nosso universo pessoal, é sem dúvidas, um ótimo portal para o nosso crescimento e para a compreensão do que somos e do quanto podemos com nossa estrutura tecnológica mais primitiva: nosso próprio corpo e suas múltiplas funções...
No exercício multidimensional de nossa individualidade nos defrontamos com nossos desafios, nossas limitações e acabamos descobrindo nosso potencial para resolver os problemas, superar os limites e aplicar os incríveis recursos de nossa magnífica engenharia mental, que está sempre disponível para nos socorrer, nos momentos mais difíceis, mesmo quando não nos damos conta do quanto, realmente somos capazes.
Enquanto desenvolvemos nosso processo individual, corremos gravíssimos riscos... Alguns mais freqüentes são: acreditarmos, exageradamente, em nossas próprias crenças e paradigmas, ao ponto de nos fecharmos para o mundo, até causar o bloqueio de portais decisivos para a ampliação do nosso empreendimento. Outro risco é acharmos que o nosso processo é o melhor do mundo e o que estamos fazendo, isoladamente, vai resolver os problemas de coletividades distanciadas das questões que caracterizam e definem nossas práticas individuais. Por isso, penso que todo esforço organizacional de um indivíduo, por mais acertado que seja só tem validade e ganha desdobramentos, quando está focado e em sintonia com as necessidades de sua comunidade imediata ou natural.
Essa reflexão me faz acreditar cada vez mais no encontro, no debate, no confronto de idéias e posicionamentos diversos, que nos provocam e nos convidam a enxergar novas possibilidades e caminhos para construções coletivas.
Ao longo do desfolhar das árvores de nossas vidas, cada folha que cresce, executa sua função no sistema respiratório e ao se desprender do galho, se atira no abismo dramático da ação abstrata, onde corpos concretos não constituem foco de maior interesse. Ali é o lugar, é o espaço das idéias, das formulações inimagináveis, por intervalos insondáveis quase imperceptíveis, carregados de transformações intercelulares e intra-atômicas. É assim que se dá a criação em poesia, em música e em outras linguagens artísticas... da complexidade estrutural da árvore, que representa um coletivo, à simplicidade da queda de uma folha, que significa o fim de um ciclo vital e ao mesmo tempo, simboliza para o universo poético a abertura ou início de um ponto de mutação para outra leitura dos elementos dispostos ao nosso redor, visíveis ou não, palpáveis ou não. No instante em que decodificamos o conteúdo, escolhemos as ferramentas e iniciamos, à nossa maneira um novo ou diferente processo de intervenção sobre alguma natureza abstrata ou concreta, essa intervenção será Estética, se considerarmos o conjunto dos “modos” de perceber, de sentir, de pensar, de fazer, de expor e/ou comunicar o produto ou resultado final do “ato criativo” e ainda os “estados psíquicos” do ator ou grupo de atores.
É enquanto a folha mergulha no vazio de sua queda que linhas ocultas se tornam visíveis e inspiram novos caminhos e formas diante de olhares atentos e sensíveis, ávidos para traduzir seus diálogos silenciosos com micro eventos da natureza. Estou falando nesse texto, única e exclusivamente, de processo criativo, poético, filosófico ou político, de indivíduos ou de coletivos organizados.
Mesmo quando nos inspiramos em acontecimentos gerados no seio das massas, enquanto criamos, somos meros solitários... em nossa solidão tudo é possível.
Ficamos frente a frente com nossas questões mais íntimas, é quando o indivíduo pode, realmente, empoderar-se de si mesmo. Pode escolher as ações, a qualidade das ações e
Pode ainda sugerir o sujeito para praticá-las, ou seja, pode criar o personagem e pode dirigi-lo em inter-relações coletivas. Por essa ótica, a solidão seria o portal perfeito para o indivíduo experimentar todo o seu poder, sem interferência de ninguém...mas, e quem
nunca soube o que é solidão? Nunca ficou, realmente, só? Será que alguém assim, entende o significado da palavra: individualidade?
Após respondermos ou pensarmos sobre as questões colocadas acima, certamente, estaremos mais próximos de compreender o isolamento dos gênios, em seus processos criativos, o enlouquecimento e o total afastamento da realidade, caso de muitos. Estaremos também, “mais prontos para o debate”.
E de que debate estamos falando? Sabemos que a história se desenrola por processos de várias naturezas e que sem eles uma sociedade não sobrevive nem se desenvolve, certo?
Processos de guerras; processos de pacificação; processo de anexação de territórios; processo de aculturação e, como matriz, o mais marcante e perverso de todos os processos experimentados pela humanidade: a colonização. Ao cair com todas as armas e necessidades sobre o outro, o colonizador deseja sugá-lo, tirar toda sua essência, até julgar que esse “outro” não passa de mero “objeto inofensivo”, pronto apenas, para servi-lo, esvaziado, acomodado à espera, como um cordeiro antes do golpe final, de novos códigos de comportamento, nova conduta, “nova alma”,enfim, nova Estética, a do Colonizador.
O debate sobre música negra contemporânea proposto e desenvolvido por afrobrasileiros dentro de seu tempo, para resolver questões de hoje e de amanhã, sem as rédeas de nenhum representante da Casa Grande, torna-se um tesouro de extremo valor para todos nós. Ao iniciar a reflexão sobre Estética e música negra, percebi que seria uma excelente oportunidade para por no papel minhas teorizações sobre o tema proposto: Nós e os outros na música negra contemporânea. Depois de atravessar a década de 1990, pesquisando, debatendo e praticando entradas e saídas nas brechas da Indústria Cultural, vi e vivi muitas experiências de vida e morte precoces, de idéias e projetos artísticos geniais. Na década seguinte continuei minha demanda de pesquisa e militância com a “alma armada” e com a lâmina conceitual afiada, pronta para desferir golpes certeiros e abrir fendas e avenidas para passar meu bloco e minha plataforma de Jongo Contemporâneo, representada pela Banda Caixa Preta, que tem provocado uma ebulição na cidade e um processo irreversível de reconhecimento do Jongo como uma das matrizes formadoras da Música Popular Brasileira. Com a “felicidade guerreira” (Solano Trindade) gritando por todos os poros, vislumbro ainda outra meta paralela, que consiste em aplicar uma dosagem de Jongo Contemporâneo no debate sobre produção de conteúdos pedagógicos, a partir de uma psico-linguagem, lítero-musical da Estética Quilombola.
Por estar no “umbigo do furacão’’, por estar, exatamente, no “centro nervoso” dessa discussão, entendo a questão da Estética Negra como um imenso território invadido e demarcado pela violência colonial . Assim, como reivindicamos reforma agrária para manter o cidadão no campo, com qualidade de vida e evitar o inchaço insuportável das cidades, nós cidadãos e cidadãs herdeiros das senzalas e dos quilombos, reivindicamos mais que terras. Estamos exigindo a expulsão do invasor, queremos nossos imensos territórios de elaboração psicolingüística sob nossos domínios para que possamos administrar do nosso modo nosso capital cultural que continua sendo explorado e gerando riquezas para a sociedade brasileira, às custas do empobrecimento identitário e econômico de nossas fontes culturais. O debate sobre Estética Negra no Brasil contemporâneo, não pode perder-se do “Ser” negro integral, em “condição humana resolvida”, caso contrário, não aprofundaremos o necessário para atuarmos de forma decisiva na “descolonização”, fenômeno contemporâneo que só interessa aos povos colonizados.

Pessoas, coisas e mistérios...

Há tanto por trás das coisas que a gente não vê, não percebe, não toca, não sente e por isso não consegue entender. São tantas coisas soltas pelo espaço do nosso imaginário, que ás vezes, nos sentimos vazios como se essas coisas fizessem parte do nosso ser e precisássemos juntá-las ao nosso corpo físico, para trazermos aquela sensação de conforto e segurança que realiza a noção de bem estar e prazer. Entre o nascimento e a
Morte, certamente, todos nós morremos várias vezes e, mesmo assim, não dominamos a arte de viver. Por mais artistas que sejamos e ainda que realizemos o maior número de obras de arte, mal chegamos perto de compreender todo mistério que há nas coisas que despertam e aguçam o nosso querer. Por falta de compreensão nos confundimos, por entre as coisas, por entre as pessoas e esquecemos o que, realmente, somos e, cada vez mais, perdemos o tempo de domínio sobre aquilo que queremos ser.
Humanos, mais humanos, cada vez, mais humanos e ainda assim, não sabemos o que é
Ser humano, exatamente, já que somos humanos de forma tão diferente. Cada um de nós é resultado de um acontecimento inigualável. O mais intrigante é que acontecemos de maneira tão parecida. No entanto, a soma dos instantes vividos por um e por outro, jamais será equivalente. Acredito que em algum momento em sua fantástica tragetória, já no futuro,já em um estágio mais evoluido, a humanidade possa vangloriar-se com a conquista de um número maior de indivíduos,auto-capacitados, na incrível arte de dominar as instituições mais poderosas e perigosas já inventadas pela própria mente humana:a loucura; a solidão;o desejo;a inveja;o vício e algumas outras que constituem o grande campo abismal e obscuro, onde a todo instante,em micro-fracionamentos do tempo, comparável a um movimento de retina, alguém se deixa levar e se entrega aos descuidos dessas redes de sensações mantenedoras do tecido psico-sociológico de uma sociedade caótica,débil e atrasada no seu projeto humanitário, ou seja, no seu sonho de se tornar algo melhor, para o mega-diversificado contingente que necessita de ajuda a todo instante.

domingo, 2 de maio de 2010

PARCERIAS RESOLVEM

O CD Jongo Contemporâneo, que começei a compor e a conceber em 2003, tem atravessado as crises enfrentadas pela banda Caixa Preta.Mas, tem contado com empenho de todos os músicos da banda, além do apoio direto de artistas e técnicos que compraram o barulho de construir essas páginas históricas conosco.Aproveito e deixo aqui o profundo agradecimento a todos os amigos e parceiros que atuaram nessa empreitada,que ainda não terminou,por isso agradecimentos megaespeciais aos que se autodeterminaram a ficar até a conclusão da obra!Sigabéns!

BANDA CAIXA PRETA

A Banda Caixa Preta, com seu trabalho intitulado JONGO CONTEMPORÂNEO, uma música marcada pelo hibridismo e feita para dançar, "transitar", surgiu no final da década de 1990. Outras bandas e artistas, como Farofa Carioca e Pedro Luiz e a Parede,Boato, Acorda Bamba, Forroçacana, Baia e Rockboys,Bangalafumenga,Brasov, Vulgue Tostói,entre outros, compunham a nova cena autoral da cidade do Rio de janeiro.
Em 1999, A Caixa Preta lançou seu primeiro Cd(100% Gonça) que causou um certo desconforto na mídia, por ser um trabalho carregado de Jongo,manifestação,
genuinamente, senzalesca e Rural,desconhecida do grande público, naquela época. Na raiz do Jongo, Augusto Bapt encontrou a inspiração para criar uma linguagem que reflete seu carinho e respeito, pelo legado de sua mãe (Jongueira/sambista), os ensinamentos dos "Negos Cumba", como seu pai e mais tarde já na extensão de sua pesquisa, o contato direto com outros mestres de Jongo, como o saudoso Mestre Darcy (Jongo da Serrinha)de Madureira, subúrbio Carioca. A Banda Caixa Preta é uma família musical composta por Augusto Bapt (idealizador dessa expressão, lider da banda, compositor e vocalista), Katia Preta (trombonista), Joe Lima (baixista), Robertinho de Paula (guitarrista), Marcos Feijão (baterista), Régis Gonçálveis (percussionista). O primeiro CD "100% Gonça", lançado há 10 anos é a marca daquilo que foi considerado revelação do pop Carioca. Com o seu código de entradas e saídas, a palavra mágica "Gonça", a banda ousou e fundiu algumas "estruturas" em seu Cd de estreia e, até hoje, mistura Samba, Jazz, Funk, Reggae, Bossa Nova, Chorinho, Flamenco, tudo temperado com o Jongo. No repertório estão músicas com um formato pop como “Dudu Mingo” e “Caído de grana” com destaque para o “Samba da Benção”(Vinicius de Moraes/Baden Powell), versão tocada nas pistas no Brasil(rádios como MPB FM, Roquete Pinto FM e Rádio Mec AM) Portugal, Angola, Holanda, Itália, Chile, México, Espanha, Estados Unidos e Londres.
Fazem parte também do cardápio musical as composições: Indo embora, O Quêk Rola, um misto de samba-choro-jongo, e Caxanga Rosa,o hit consagrado em todas as apresentações da banda.Essa música , sozinha definiria o Jongo Contemporâneo,preconizado por Bapt, hà doze anos atrás. Ao longo dessa primeira década de 2000,a principal preocupação de Bapt,na condição de fundador e líder da banda, foi sensibilizar seus companheiros para dimensão e importância de se ter e defender uma linguagem autoral, conceitualmente,diferenciada de tudo que já se fez e
que ao mesmo tempo, cai tão bem na estante dos produtos das melhores bandas nacionais...Nação Zumbi, O Rappa,entre outras...outra ação focada desempenhada por Bapt, foi quanto à ampliação do Capital Social da banda, ou seja,aproximar suas idéias,projetos e produtos do maior número de pessoas interessadas em trabalhos artísticos que expressem opiniões contra-hegemônicas, tanto em sua forma, quanto em seu conteúdo. Atualmente,entre músicos,DJs,atores, produtores,jornalistas e até mesmo, empresários, a Caixa Preta conta com um público especializado e de peso, pronto pra confirmar o que já está dado e referendar: "Em termos conceituais e criação de linguagem, Caixa Preta é a revelação que o Rio de Janeiro estava devendo ao cenário artístico-musical." É nesse clima que a banda está comemorando doze anos de estrada e trabalhando duro para o lançamento do novo cd "Jongo Contemporâneo",marcado para Novembro no Rio. Aguardem!

sábado, 1 de maio de 2010

SOBRE O CONCEITO "JONGO CONTEMPORÂNEO"

Jongo Tradicional & Jongo Contemporâneo
Augusto Bapt
(Banda Caixa Preta)



Jongo Contemporâneo
Conceito artístico-musical, híbrido, inspirado e desenvolvido a partir da relação direta com Mestres Jongueiros de vertentes e posicionamentos diferenciados sobre à prática dessa cultura tão antiga quanto a presença do homem negro em "terras Brasileiras".Por um fenômeno Geo-político, o contingente jongueiro fixou-se e proliferou-se, na região Sudeste do Brasil. Jongo é uma manifestação cultural que consiste em perpetuar uma mística ritualística de preparação do corpo e da mente para o transe ou mudança de estado de consciência, em todos os níveis...psíquico,social e político. A partir da compreensão lógica e simbólica da prática do "Jongo Tradicional", o "Jongo Contemporâneo" desenvolve-se como uma consequência natural e inevitável... pois, trata-se da relação dos novos homens negros interessados em lançar canhões luminosos sobre o conteúdo poético- filosófico
produzido e sufocado durante os séculos de escravidão, seguidos por séculos de indiferença e descaso. Sendo assim, " Jongo Contemporâneo" é a expressão trans-secular do homem negro, herdeiro direto da prática de transitar no espaço-tempo consciente da presença espiritual dos seus antepassados.Em termos musicais, caracteriza-se pela fusão de informações de todas as linhas da musicalidade negra de todos os tempos...Spiritual, Blues, Jazz, Rock, Soul, Funk,Reggae, Samba, entre outras tendências.
Noutros termos, Jongo Contemporâneo pode ser entendido como uma tradução da expansão musical do Jongo Tradicional, tocado com instrumentos modernos como o violão, guitarra, sax, trompete, piano, trombone, violino ou ainda uma batucada de Jongo realizada com instrumentos de Escola de Samba. Após algum tempo,desenvolvendo e aplicando exercícios de improvisação rítmica e melódica,em oficinas para crianças,
adolescentes e adultos, em espaços formais e não formais na cidade do Rio de Janeiro,pude ampliar o diálogo do Jongo com outras matrizes,quero dizer,encontrei condições para experimentar inúmeras possibilidades de composição do módulo básico do Jongo com módulos de outros gêneros musicais. Paralelo ao processo de pesquisa e criação artística,fui construindo uma Plataforma Discursiva,ou seja,quanto mais aprofundava a investigação, mais tinha necessidade de entender e explicar o caminho
percorrido...esse processo me fez e ainda me faz perceber o quanto o Jongo Contemporâneo,entre outras definições,significa :Portal filosófico, para o trânsito e o encontro dos Quilombolas de ontem com os de hoje e com os de amanhã.

Salve o Semba/salve o Jongo
Salve o Samba/salve o Congo
Salve nossos ancestrais!
Salve a África/nossos bantos
Salve a Banda/ nossos santos
Salve nossos Orixás!
Salve os Oceanos/novas travessias
Salve nossos planos/novas poesias
Salve nossa Paz!
salve o povo brasileiro/nossa dor/nossa alegria
salve o Rio de janeiro/montanhas de silício e maresia...
Salve os mananciais!
salve os campos/salve as fontes
Os Rios e os Belorizontes
salve as Minas Gerais!
salve o sol/o som/o sal/os sais
algodão/cana/café/milho e minerais
Salve os partos naturais!
salve a mãe de leite/salve a parteira
as ervas/o azeite/salve a rezadeira...
Salve os novos nascimentos/salve os "meninos do Brasil"
salve o redescobrimento/salve o portal que se abriu
salve o interior/salve o litorâneo
salve o tambor do "Jongo Contemporâneo"!




Nas palavras do mestre Messias, jongueiro carioca,” o Jongo é ritual de preparação de guerreiros”... Em sua fala percebi o quanto era importante para ele enfatizar o aspecto sócio-político desta manifestação. Outro mestre bastante conhecido aqui no
Rio, dizia:” O Jongo não é de buia...”, verso de um jongo muito cantado pelo Mestre Darcy, que completava:"... O Jongo, se praticado de acordo com a orientação correta, os praticantes podem executar feitos surpreendentes."
No entendimento do mestre jongueiro de Ponte Nova, MG, nosso querido Délcio Teobaldo (roteirista - TV Brasil e escritor ganhador do prêmio Barco a Vapor - 2008) o Jongo é tão sério que não deveria ser praticado por qualquer um e, roda de Jongo para ser respeitada precisa da presença de um “Negro Cumba”, aquele que tem o DNA, detém os códigos genéticos e sabe interpretá-los para a comunidade. Baseado nessa argumentação ele afirma:
"Jongo não se ensina!" Por mais, que se aprenda o básico, se você não é de sangue,de berço e bacia, nunca será Cumba, pra saber de Cumbaria.

Délcio Teobaldo nos revela em sua análise Jonguiana, as três vertentes de aplicação do Jongo:
a) Cantos/pontos de fé;
b) De trabalho;
c) De Orgia.

O quarto mestre que faço questão de citar aqui, sem dúvida é o nosso Cumbabá maior, Mestre Umberto Balogun. Esse sempre fez questão de me alertar para as mais variadas fontes que geraram o formato dessa manifestação, assim como vemos hoje.
Vindo do outro lado do Atlântico no corpo e na alma dos africanos capturados pelos colonizadores europeus, segundo um consenso entre esses Mestres, trata-se de uma herança do povo Bantu que consiste em prestar culto aos seus mortos,através de toques,cânticos e movimentos corporais repetitivos, representando as seqüelas deixadas no corpo pelo trabalho diário na Lavoura, principal atividade desse povo, de cultura, dominantemente, campesina, que veio se afortunando de almas desencarnadas nos porões dos Tumbeiros. "Por isso, que não gosto de capitão do mato,por isso que não gosto de patrão"! Por isso, luto e combato, sequelas da escravidão..."
Fragmentos de África construindo identidades e perspectivas na Diáspora. Durante muito tempo tivemos que suportar e conviver com uma ditadura estética eurocêntrica, imposta pela a herança colonial representada pelos herdeiros da Casa Grande. Nessa ditadura,assim como em qualquer outra,algo precisava ser afirmado e empurrado guela abaixo de todos os subalternizados da Colônia. No entanto, já entramos em outra era e como diz o verso da canção cantada pelo (primo)Seu Jorge : " Outro tempo começou pra mim agora..."! Que outro tempo começe todos os dias para todos nós e que aprendamos de uma vez por todas a respeitar nossas pequenas conquistas, respeitando e apoiando o levante de qualquer cidadão subjugado nesse país.É mil vezes melhor, uma nova bandeira hasteada,que um cidadão jogado na calçada! Sou um Cidadão Comum, como qualquer Cidadão...Existem Mil coisas e entre essas coisas...os meninos estão lobotomizados, num sinal de trânsito fechado, brincando de atravessar...chama Maria pra entrar na roda,Maria negra da Caxanga Rosa,deusa da roda,nasceu pra rodar...até o Império das águas brasileiras se tornar um assunto que o povo possa debater...
Amigos e amigas, por enquanto,é isso. Inspirado pelo dia do trabalhador e do trabalho,estou dando uma trabalhada no Manifesto dos Doze anos de Jongo Contemporâneo e aproveito pra convidar geral para o lançamento do novo CD da Banda Caixa Preta ( Jongo Contemporâneo)em Julho.Até daqui a pouco! Sigabéns!