sábado, 21 de julho de 2012

Linha tênue, outra parte

Enquanto escrevia os primeiros textos, não dominava nada do mundo das letras, muito menos do universo poético, que é um segmento específico dentro e fora da literatura, acredito que o poético interpenetra várias outras artes e campos do conhecimento humano. Naquelas ingênuas primeiras linhas, já havia uma carga de seriedade, que eu não tinha noção, por não saber a dimensão daquela atividade, fui fundo, me joguei! Fiz com o poético, o mesmo que fazia com o "poço", mergulhei de cabeça e foi o tchibum mais marcante e duradouro de toda a minha vida. Até aqui, não tenho o que reclamar dos estágios alcançados no meu processo de investigação poética. A linha que corta a realidade, abre passagem pra fantasias, desconstrói concretudes e instaura o império das possibilidades impossíveis, confunde-se, facilmente com o que as crianças fazem e os adultos classificam como algo menor, chamando de "brincadeiras", pra que não precisem decompor seus personagens, tirá-los do seus lugares de poder em relação ás crianças, seres frágeis, incapazes de viver alguma coisa interessante fora do alcance dos seus pais. Assim caminha a humanidade, dominada pelo patriarcado, passo a passo ao abismo da obsolescência. Hoje, procuro equilibrar a seriedade inerente à minha história de vida, os traços da minha personalidade com as escolhas que fiz. Estou certo de que a "escrita poética" é uma linguagem, extremamente, poderosa e sempre que escrevo, exerço esse poder da forma que aprendi, submergindo e emergindo...indo ao fundo e vindo à superfície...mergulhando, mergulhando, como faz aquela ave, o "mergulhão", em seu trabalho pra se alimentar...compreendendo os desafios do mar, dos rios, das águas, do mato, do campo e das cidades...enfim, trabalhando, trabalhando, quebrando pedras, apagando incêndios ou incendiando engenhos e paióis...como diz a canção:" Já não brinca mais...trabalha!" Na verdade, nem percebi o instante em que a linha tênue e invisível, que separa a seriedade da brincadeira, arrebentou e como um rebento, me tornei poeta e não mais só um brincante das palavras. O poético é um lugar, uma situação, uma condição psicofísica, onde se chega sem mapa, sem bússola, sem bola de cristal e sem GPS. No entanto, toda caminhada tem seu sacrifício, o poético é sagrado e maldito ao mesmo tempo. Por isso, não me arvoro em defesa do bem ou do mal, todo poder é desigual, defendo o fluxo como definidor de todas as ações vitais e transformadoras em qualquer sistema.

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