domingo, 9 de setembro de 2012

Futebol e virtudes

Tenho feito do universo futebolístico uma espécie de "mola propulsora" para pensar e compreender uma série de coisas e acontecimentos, próximos e distantes de mim, ao longo de toda a minha vida. Minha infância se dá por toda a década de 1970. Por volta de 1975/76, começo uma relação mais afetiva e efetiva com a linguagem escrita e com o futebol, ainda não sabia nada de Geografia ou astronomia, logo, estava longe de poder comparar a bola de futebol com as dimensões circunferenciais do planeta terra ou imaginar que os times eram constelações de estrelas. Sabia pouco de matemática, por isso, não podia brincar com a geometria que define as linhas divisórias do gramado e o seu perímetro, um retângulo somado a outro retângulo, por onde desfilam os artistas, com seus traços abstratos, feitos enquanto se deslocam de um lado para o outro, pelos espaços vazios, evitando o choque entre os corpos ou provocando choques, afim de ampliar a perspectiva de um desenho final, física então, nem se fala. Toda essa noção de corpo, espaço, movimento e repouso, velocidade, tempo, intensidade, reflexo, visão de jogo e espírito de equipe ou "sujeito coletivo", que a arte do futebol congrega em sua prática, certamente, foi minha primeira grade curricular e o campo de futebol, minha sala de aula. Aos nove de idade, já estava, totalmente, tomado por todo esse universo fantástico e, intelectualmente, profundo. O campo era minha casa, sala de aula, sala de estar, se deixassem, almoçava e jantava ali, no meio daquela geometria plana, de linhas brancas sobre a superfície verde, com a bola agarrada aos pés, formando minha própria caneta esferográfica, pronta pra executar novos e inusitados traços. Entre dez e onze anos, já era considerado craque da comunidade, com direito a nome na calçada da fama e tudo, se tivesse isso lá, naquela época. Mesmo não sabendo nada de política, já convivia com uma sensação de poder e influência sobre os outros garotos e até mesmo, adultos da nossa localidade. A Organização política de um time em campo, começou a chamar minha atenção, nessa fase. Defesa, meio campo e ataque ou seja, defensores, armadores e finalizadores, ao mesmo tempo, todos que estão no jogo, podem cumprir todas essas funções, se for necessário, afinal de contas é um processo coletivo, são "onze" corpos, representando "um", como se o time armado em campo, fosse um discurso, com início, meio e fim. Uma espécie de síntese diplomática da comunidade, literalmente, em uma batalha campal.

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